domingo, 21 de fevereiro de 2016

Nem tudo são flores!

Um dia acordamos com uma novidade. Ladrões haviam entrado na Casa Lopes. O muro do fundo do prédio tinha sido arrebentado, arrombaram a porta dos fundos da loja  e os malfeitores entraram para roubar. Fizeram uma limpa. Não conseguiram levar tudo, então, o que não puderam levar, destruiram. Eu ainda era muito pequena mas me lembro do rosto desolado de minha avó, mostrando com indignidade as calças cortadas ao meio. Não eram apenas ladrões em busca do lucro em cima do esforço alheio, mas, eram pessoas que além de roubar queriam deixar um rastro de destruição. Isso não impediu meus avós nem meus pais de continuarem a vida e trabalharem para conseguirem seus objetivos. Na mesma semana meu pai contratou  um pedreiro para consertar o muro arrebentado e aumentou a altura do muro.
Era comum pessoas virem à loja mau intencionadas. Minha irmã conta que presenciou uma cena de uma Senhora com suas filhas que veio a loja e ia saindo com o retalho enfiado na bolsa quando foi abordada por vovó para pagar ou devolver o tecido.
Os anos foram passando e os interesses foram mudando, meu avô trabalhava muito na roça e ficava pouco na loja. Quem ficava na loja era minha avó Clothildes pois  meus pais haviam comprado um terreno na rua Monsenhor Pedrinha aonde abriram o Supermercado Santa Mônica. Então finalmente decidiram fechar a loja. O fechamento da Casa Lopes foi o fim de uma era para a nossa familia.
Seu Joaquim Lopes saiu definitivamente dos negócios deixando por conta de papai, ele continuou responsável ainda pela roça, e isso ele fazia muito bem.
Linhares estava mudando mais uma vez. O comércio  estava se expandindo de novo agora apontava para a rua Monsenhor Pedrinha em direção a Br 101.
Quando a Casa Lopes fechou , ficou um grande vazio no térreo do nosso prédio. Mas, as mudanças não pararam por aí, meus avós  também mudaram para o novo apartamento na rua Monsenhor Pedrinha, em 1971. Então nosso prédio ficou vazio de vez. Aos poucos tudo mudava, primeiro foi a tia Dalila, depois a loja, depois nossos avós. Era tão bom tê-los por perto! Aos poucos nosso prédio foi ficando vazio. Aquela rua que era a principal de Linhares, com seus lindos canteiros e arborizada, a rua comercial tão movimentada não tinha mais o dinamismo de outrora. O prédio continuava lá, mas faltava a alegria que um dia esteve por ali, e que o tempo levou com sua arte de transformar as coisas. Ficamos nós seis. Mas, não ficamos sozinhos por muito tempo...


O vexame
Cena presenciada por minha irmã Jacqueline na infância, quando ela me contou há alguns anos esta passagem fiz este desenho em crayon para ilustrar a cena.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Era Muito Bom Quando Eles Moravam ao Lado!

Era tão bom tê-los por perto. Sempre prontos a nos ajudar, pegar no colo, falar com carinho ou chamar a atenção, mas com o objetivo de educar e com muita ternura sempre ensinavam alguma coisa.  Estou falando dos meus avós paternos. Eles moravam no apartamento ao lado.
Tem algumas coisas que ficaram impregnadas na memória, me lembro até hoje do meu vô Joaquim me ensinando a tomar sopa. Ele ensinava que quando a sopa estava muito quente eu tinha que pegar a sopa da borda do prato, em pequenas quantidades. Faço isso até hoje e penso nele. Outra que é certa, quando o café com leite estava muito quente ele pegava outra caneca e transferia o café  com leite de uma caneca a outra para esfriar, como faz para saber se já está esfriando? Quando começa a espumar. Talvez sejam coisas óbvias  e tão simples mas lembro dele ensinando esses pequenos segredos de sobrevivência para a netas.
Era muito bom quando faltava luz, vovó Cati ia logo pegar uma vela para acender e esse momento era mágico. Aquela sensação de medo pelo escuro e a luz da vela que chegava clareando.
E quando tinha alguma tempestade, com raios e relâmpagos ela nos proibia terminantemente de pegar qualquer objeto metálico, com medo de sermos atingidos por um raio.
Quando chegava a noitinha, depois da janta, a vovó Cati, saia com a gente para dar uma volta na rua. Ela ia dando seus passos lentos e distraídos, olhando as vitrines. Iamos correndo na frente, eu minhas irmãs, para pular marelinha macaca em frente a Sapataria Mister, mais a frente ela encontrava a sua amiga Dona Jacira, que era a esposa do Seu Benvindo do Bar Sport, alí elas conversavam distraidamente e depois voltávamos para casa.  As vezes ela nos levava na Sorveteria Xodó para tomar sorvete, aonde o nosso preferido era o sorvete de flocos.
Bons tempos. Só guardo boas lembranças e muita saudade.