quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Primeiro de Ano


As festas de ano novo, para mim quando pequena não representavam grande coisa. A Páscoa e o Natal eram mais importantes pois a família se reunia, no ano novo geralmente era cada um pro seu lado. Com o verão batendo na porta cada um ia procurar uma beira de mar pra ficar, ou uma beira de lagoa pra se refrescar do calor. No dia primeiro de ano, não se encontrava viva alma nas ruas de Linhares. Creio que seja assim até hoje no " país de Linhares" , era assim que a vovó Aracy se referia a Linhares, outra expressão muito utilizada na familia.
Eu ainda tinha 9 anos, poucos dias para os 10, contava nos dedos para o dia do meu aniversário.Nesse dia acordei cedo, peguei a bicicleta de Dri e fui dar uma  volta. Sentia o vento batendo em meu rosto, o sol quente, mas ainda sentia a brisa fresca pois era cedo. Dei a volta no quarteirão, fui na pracinha dos bichos, não tinha ninguém, parecia uma cidade abandonada eu estava sozinha alí naquelas ruas do "país de Linhares".  Mas ao mesmo tempo que eu estava só, eu tinha uma grande satisfação dentro de mim, eu estava feliz pois era o começo de mais um ano , muitas coisas boas a vir, o verão na praia, os banhos nas lagoas, meu aniversário tão próximo e a vida!  Quer razão melhor para estar feliz?
Voltando da pracinha dei uma pedalada forte na bicicleta para ganhar velocidade e sentir o vento mais forte em meu rosto , cabelos ao vento. Chegando a esquina do Banestes, dei uma freada e a bicicleta deu uma rabeada, montei a beirada da calçada com uma guinada e dei uma parada brusca aonde tinha uns degraus de mármore, fiquei ali parada olhando , a rua vazia , ouvindo o silêncio , sentindo o sol  e a  brisa que batiam contra o meu rosto.  Era o meu encontro com a paz!  Então eu disse para mim mesma:

- Quero lembrar deste dia para sempre!

Eu queria guardar aquele momento de plenitude na memória, queria guardar pra sempre dentro de mim, o dia 1º de janeiro de 1976.
Feliz Ano Novo!
Apesar de ter ficado na memória,  quis expressar este momento através deste desenho.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A devoradora de livros

Sempre quis aprender a ler. Eu tinha uma curiosidade muito grande para saber o que as letras ensinavam então aprender a ler foi uma das coisas mais fantásticas que me aconteceram na vida. A leitura abriu a porta do mundo para mim e lá em casa a porta do mundo ficava no quarto da empregada. É que la tinha um guarda-roupa cuja metade era da empregada e a outra metade era aonde ficavam os livros. Eu passava horas  a vasculhar aquele pequeno espaço e ali eu viajava. Numa prateleira ficavam os livros infantis. A coleção O mundo da criança, livros de capa dura e vermelha, era  a minha favorita. Mas, tinham também muitos outros, muitos livros de poesias, de fábulas , dicionários  diversos, contos de fadas, mitologia grega, histórias  verídicas, revistas em quadrinhos, hinos brasileiros, contos bíblicos, história da arte e música, havia também uma colecão de capa verde que ensinava gramáticas,verbos e tudo sobre a língua portuguesa, estes foram muito úteis nos anos escolares. Mais embaixo ficavam as coleções de discos de papai, discos já antigos e fora de moda , mas que eu adorava escutar: a Banda do Canecão, Bill Halley e seus Cometas, a Onda do Iê-Iê-Iê e muitos outros, mais abaixo ainda já próximo ao chāo ficava a coleção de estampas Eucalol. As estampas eram magníficas pois traziam uma figura e atrás um texto explicativo falava-se de tudo nestas estampas, de roupas, soldados, mitos , piadas, bandeiras, História e Geografia e muitas outras coisas. Sem falar da coleção Seleções Reader's Digest, que eu devorava uma estória após outra.  De vez em quando aparecia uma fotonovela perdida, que alguma vizinha emprestava, não deixava passar nada, lia tudo que passasse na minha frente. Não salvava nem bula de remédio, lia também, adorava!
Uma vez meu pai foi a Bahia visitar grandes amigos Clarice, Marília e Ulisses Sôlha. Eles eram donos de uma loja de revistas e mandaram para nós, eu e minhas irmãs uma caixa cheia de revistas
em quadrinhos, nesta caixa tinha de tudo: Popeye, Bolota, Brotoeja, Tininha, Hans e Fritz,Luluzinha,Riquinho, Recruta Zero e muitos outros.
Outro lugar que eu adorava era o guarda -roupa do meu primo José Eupídio,era cheio de revistinhas: Tio Patinhas, Mickey, Turma da Mônica, Zorro,Fantasma, Mandrake, Capitão América,Pato Donald e etc... Eu ficava lendo bem escondida, quase dentro do guarda-roupas, para não ser importunada.
Frequentadora assídua da loja de revistas que ficava ao lado da Skip's quando passava lá para comprar uma revistinha não conseguia chegar em casa para começar, já começava a leitura no caminho. Podia ser andando , subindo ou descendo a ladeira eu não largava o meu gibi por nada. Eu era capaz de ler e olhar a rua ao mesmo tempo para não cair. Vânia , minha prima sempre falava:

- Meu Deus!  Como é que pode? Essa menina anda lendo sem cair. Não sei como não bate a cara no poste.

E assim eu era.  Uma devoradora de revistas e livros. Sempre em busca de um outro lugar, que pudesse existir além das letras, das figuras e dos livros. Sempre em busca de um mundo, uma estória ou novidade que viesse de outros lugares.





Fonte fotos: internet sites diversos

domingo, 27 de dezembro de 2015

Vovó Aracy III

Últimos anos de sua vida. A vovó Aracy rodeada pela suas bisnetas.
Fonte : Facebook de Evelize Calmon
A vovó tinha um talento especial para agradar as crianças. Era uma contadora de estórias nata.  Mamãe, até hoje fala das estórias que ela contava, que eram tão verdadeiras, mágicas e fantásticas. Eu, particularmente não lembro das estórias, mas eu lembro bem da brincadeira do bico siririco.
Esta brincadeira consistia em que ficávamos em círculo com o dedo indicador apontado e os demais dedos escondido na palma da mão, a vovó por sua vez liderava o círculo e ia batendo nas nossas mãos cantando a canção:
"Bico siririco,
Quem te deu tamanho bico,
Foi de ouro, foi de prata,
Bota a mão no seu sovico"

Quando ela parava a cantiga a pessoa que ela estivesse com a mão em cima tinha que colocar a mão no sovaco. E aí continuava até todo mundo estar com a mão no sovaco.
Uma brincadeira tão simples e sem propósito mas que a gente adorava brincar e tinha  que ser com ela.
A vovó era especialista em fazer chupetinha. Ela tinha umas formas de ferro para fazer pirulito que tinham o formato de uma chupeta de bebê. Quando ela vinha e trazia as chupetinhas a gente parecia que estava no céu de tanta felicidade. Outro agrado inesquecível eram os pães que ela fazia. A massa era deliciosa mas, o melhor eram os formatos dos pães: jacarézinho, tatuzinho e muitos outros bichos e o mais encantador era que ela tinha o capricho de colocar os olhinhos nos bichinhos que era apenas um pequeno cravo-da-índia , inserido na massa ainda crua que depois de assados ficavam lindos e perfeitos. Tenho que dizer, minha avó era extremamente talentosa e amava muito os seus netos.
Ainda falando de comida, a canjica que ela fazia era extraordinária. Era tradição na Páscoa, ela fazia a canjica regada no leite de côco  com amendoim. Era de revirar os olhos de tão bom!
Um outro grande talento da minha querida avó  Aracy eram os bordados. Neste caso fui abençoada pelos dois lados pois minha avó paterna também tinha este mesmo talento. Os bordados à maquina dela eram lindos, muito refinados. Ela era extremamente caprichosa para fazê-los, levava tempo pois cada trabalho era uma obra de arte.
Fico por aqui com as estórias da Dona Aracy. Mas tenha certeza de uma coisa, ainda não acabou. De vez em quando alguém ressuscita um "causo".
Uma hora dessas volto com mais estórias da "vovóracy" para nos fazer rir e aquecer os corações.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Vovó Aracy II

Como eu ia dizendo a vovó Aracy não deixava nada barato...
Ela adorava um leque, uma sombra, uma rede,um vento...
Na casa do tio Mauricinho, lá na Barra, a rede era dela. Não tinha para mais ninguém. Mas rede sem balanço não tem graça, não é mesmo? Pois então alguém achou um jeito dela se balançar sem esforço. Amarraram uma corda na pilastra, desse modo ela mesma podia se balançar, puxando a corda contra a rede. Confesso que quando ela não estava na rede eu era uma das primeiras a chegar para desfrutar desse invento maravilhoso "a corda na pilastra".Mas, mesmo assim , com todo o vento, pois a casa era em frente a praia , ela ainda assim se abanava com seu leque.
Papai tinha um carro. Um corcel amarelo, 1972. Toda vez que estávamos prontos para ir a algum lugar, é claro ela ia junto. Cada um sentava no seu lugar e ela vinha e dizia batendo com seu leque na perna de quem estivesse na janela:

- Coisinha, chega pra lá.

Como eu disse ela adorava um vento não ia se não fosse na janela. Íamos então, naquele belo domingo fazer aquele passeio de família, com a janela bem aberta, de vento em popa.
Tio Heliomar e tia Iracema, que era uma de suas filhas, passavam uns bons bocados com ela. Às vezes eles vinham a Linhares para buscá-la para passar uma temporada na casa deles em Vila Velha. Bagagem pronta, vovó levava no carro tudo o que tinha direito e um pouquinho mais, bem sentada na "janela" o vento era tanto que ela nem lembrava do leque. Lá para as tantas quando chegava perto da posto de polícia rodoviária federal,o carro tinha que diminuir a velocidade, dessa forma o vento diminuia. Aí Dona Aracy abria a sua bolsa, não mais do que depressa para pegar o "leque" quando então vinha o desespero. Ela falava para o seu  genro Heliomar:

-Ai meu Deus! Eu esqueci meu leque. Lolô,você pode voltar para pegá-lo? Por favor!

Tio Heliomar parava no acostamento, com a testa quente e começava a suar em bicas. A pobre da tia Iracema não sabia o que dizer, estatelada diante da situação e a neta Raquel , não dizia sequer uma palavra. Então o Santo Heliomar dizia contendo-se para não explodir:

-Minha Senhora , você esqueceu o leque? Vamos voltar agora mesmo para buscar.

Vovó adorava cantar. O chuveiro era sua especialidade e uma de suas canções favoritas era o Tango pra Teresa da Ângela Maria:

" a luz do cabaré
   Já se apagou em mim..."

Amada por todos os netos, mas venerada pelos netos filhos da Naiade uma de suas filha, era chamada de "mãezinha".Por todos os outros era apenas " vovóracy".Amante das flores e da beleza da natureza vovó sempre tinha alguém para cuidar de suas plantas. Renê era uma menina, moradora da rua Boa Vista, que sempre brincava com a gente . Então diziamos:

-Renê vem brincar de pique com a gente. 

E ela dizia:

-Não posso ir agora, vou mais tarde pois tenho que molhar as plantas da Dona Aracy.



Tive um momento de ternura com vovó quando eu tinha uns treze anos mais ou menos. Vovó era muito vaidosa, então ela me pediu para fazer uma escovinha em seus cabelos. Fui a tarde na casa dela com secador e escova em punho para a pentear. Ela ficou muito satisfeita!




Olha pessoal, nunca imaginei que eu pudesse escrever tanta coisa da "vovóracy ". Me sinto na obrigação de escrever o "Vovó Aracy III".

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Vovó Aracy

Minha avó Aracy nasceu em Linhares, na rua Boa Vista. Era filha de Seu João Ribeiro de Paiva e Dona Petronilha Reis Paiva. Casou--se com Maurício Neves Fernandes.
A vovó era uma pessoa maravilhosa! Já falei dela antes. Mas uma pessoa como ela não se pode falar apenas uma vez.
Ela era uma mistura de excêntrica, adorável, engraçada, variava do gentil ao rude com muita facilidade e com senso de humor e crítico bastante aguçados. Dá pra ver com facilidade que era uma pessoa de personalidade extremamente forte,carregada de um pouco de tudo isso que eu falei o que a tornava uma pessoa inesquecível. Eu como neta lembro do lado mais engraçado.
Ela vinha nos vistar aos domingos. Vinha de ônibus , pois nesse tempo ela morava lá nas Populares. Sempre chegava , já reclamando do motorista sem educação que mal esperava os passageiros entrarem no ônibus e já saia arrancando.Ela entāo dizia, naquele tom jocoso:

- Naiazinha, mal me sentei e o motorista deu aquela arrancada. Nāo dá tempo nem de sentar. Quase que minha bolsa cai por pouco que o saco cheio de pāes nao saiu rolando pelo chāo. Agarrei a tempo. Mas deixa...deixa... Cada um por sua vez!

Ela sempre trazia pāes que ela fazia por encomenda e a entregadora oficial do seus pāes era  minha irmā Jacqueline. Às vezes eu ia junto com Jack fazer as entregas.
Uma vez nossos pais foram ao cinema e a pediram para tomar conta da gente. Tudo ia muito bem, ela brincava com a gente de bico siririco,quando uma de nos abriu uma caixa cheia de papel higiênicos e começamos a fazer uma guerra de rolos, e ela entrou na brincadeira. Foi maravilhoso ver vovó jogando papel higiênico e se escondendo atrás do sofá para se defender. Naquele momento ela virou criança igual a gente.
Em tempo de finados, ela avisava com antecedência que ia passar para pegar Jacqueline, outra vez a pobre da Jack, para ajudar a lavar as sepulturas da família. E lá vinha ela com baldes, vassouras, sabão e palha de aço, acompanhada de mais duas netas "voluntárias forçadas",para pegar Jack e irem para o Cemitério do Centro.
Ela adorava um leque. Não saia de casa sem um leque na bolsa. Eu admirava a habilidade com a qual ela manuseava o leque , abrindo e fechando, esse movimento fazia um barulho gostoso e eu ficava ali olhando e ouvindo atenciosamente meio que hipnotizada, pois ao mesmo tempo que ela se abanava ela estava a contar alguma coisa engraçada que havia acontecido.
Olha não da para falar da Dona Aracy num texto só. Acho que vou ter que escrever o  Vovó Aracy II.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Povoação


Quando eu era bem pequena, mas bem pequena mesmo, isso antes dos cinco anos, nós passávamos as férias em Povoação. Por isso as minhas memórias deste lugar são mais curtas. Do pouco que eu me lembro é que mamãe tinha um fusca e papai uma caminhonete verde era assim que chegávamos lá por uma estrada de chão que parecia uma eternidade para chegar.
Mamãe era muito ligada aos seus primos Ary, Acy e Arildo que iam muito para lá, era lá que em Povoação que os Paiva se encontravam.
Era sempre depois do Natal que partíamos , casa alugada, passávamos o mês de janeiro à beira do mar. Lembro de mim brincando na varanda com um presente que ganhei no Natal era um cavalinho chamado Pinote,que a medida que ia pondo as coisas em cima ele ia ficando pesado e finalmente ele dava um pinote derrubando tudo.
A gente catava muito coquinho na praia. O coquinho era um arbusto com um cacho cheio de pequenos coquinhos que era doce, uma delícia, sabor de infância e gostávamos também de catar olho-de-boi para brincar. O olho-de-boi era uma semente redonda e relativamente grande que tinha um risco divisor ao meio esfregavamos na mão a parte riscada da semente e esta ficava bem quente.
Lembro também de vovó Aracy e tia Alcy chegando para o fim de semana. As duas muito satisfeitas falavam para mamãe:

- Naiazinha, conseguimos uma ponga!

Ponga,para quem não conhece o termo, é aquilo que chamamos de carona hoje em dia.
Não sei por que paramos de ir para Povoação? Existem alguns elementos que influenciaram: numa ocasião minha avó estava tomando banho de mar e caiu com a onda se machucando, outro foi que Ary faleceu num acidente de carro, depois de sua morte os primos acabaram se afastando e outro elemento talvez o mais provável é que mamãe estava grávida de meu irmão, e como o mar em povoação era muito bravo foi influenciada por tia Irene a passar as férias em Conceição da Barra aonde o mar era mais calmo para as crianças.
E foi assim que deixamos de ir a Povoação. Se fui lá alguma vez depois disso , não me lembro. E olha, isso já faz mais de quarenta anos.

O coquinho e olho-de-boi

sábado, 19 de dezembro de 2015

A Chácara do Banestes


Ao lado do nosso prédio era o Banestes. Banco para mim não significava nada uma vez que eu era apenas uma criança. Mas,o Banestes foi o banco das nossas vidas. Voce deve estar se perguntando: Como assim? Não estou entendendo. Calma eu já explico.
Como disse no início,o banco era ao lado do nosso prédio. Era logo ali na esquina da João Felipe Calmon com a rua João Francisco Calmon era uma pequena agência  com uma residência em cima para o gerente, entre a Casa Lopes e o Banestes havia um muro gradeado, mas o que tinha de melhor estava exatamente aí atrás: era uma chácara! Sim uma chácara enorme com um pomar imenso. Lá tinha inúmeras árvores goiabeiras, araçá, pitangueiras, fruta do conde(ficava encostadinha d nosso muro e a fruta sempre dava do nosso lado), mangueiras. Era um paraiso!
De quebra fomos abençoados com os vizinhos que eram da nossa faixa etária: Marister, Helinho e Katinha.
Katinha foi minha primeira amiga, que foi no Menino Jesus ao mesmo tempo que eu. Eu e ela não sabíamos ler ainda, mas a vontade de aprender era grande, então sentávamos embaixo da pitangueira cheia de livros e fingíamos que estávamos lendo.
Nós viviamos, eu e minhas irmãs, lá na chácara a brincar de pique, casinha ou marelinha e quando mamãe chamava para vir embora a passagem mais comoda era simplesmente pular o muro. Esse muro, uma vez, foi motivo de uma guerra. Estávamos no nosso quintal e os nossos vizinhos estavam sentados em cima do muro dizendo que o muro pertencia a eles. Aquilo para nós foi uma afronta pois sabíamos que o nosso prédio foi construido primeiro portanto o muro havia sido construido pelo meu avô. Estávamos nós eu, minhas irmãs e as primas naquela disputa pelo muro.Lá em casa tinha sempre tinha um cacho de banana pendurado que meu avô trazia da roça, e as minhas primas adoravam comer banana, foi quando Sabrina descascou uma banana para comer, pequeno prazer no meio dessa briga, e naquele gesto natural de jogar fora a primeira mordida, ela pegou aquele pedaço e arremessou em direção ao muro atingindo o nariz de Marister , que por sua vez começou a chorar. Os vizinhos bateram em retirada e nós morrendo rir com a guerra ganha, " o muro nos pertencia".
Em outros tempos de paz, Dona Dalva nos fazia passar o tempo ensinando-nos a fazer leques de papel.
Assim o tempo passou o banco  aumentou a agência,  primeiro se estendendo em direção a Casa Lopes, era uma agência toda feita de pastilha amarela clara. Não muito tempo depois os nossos vizinhos se mudaram, o gerente do banco havia sido transferido para outra agência, foi assim que perdi minha primeira amiga. Nunca mais tivemos amizade com nenhuma família que morou ali depois que eles se foram.
Não demorou muitos anos e o banco se estendeu para a rua de trás a nova agência agora estava sendo construída na esquina da João Francisco Calmon com a Gov. Jones dos Santos Neves,eram tratores e caminhões entrando e saindo ,destruindo a chácara aonde tanto brincamos. Com a nova agência pronta a agência da João Felipe Calmon foi fechada, a rua principal de Linhares estava entrando em decadência. Linhares estava crescendo, o centro estava se expandindo mais uma vez e o fluxo estava indo em direção a rua Monsenhor Pedrinha e a Br 101.
Nova agência do Banestes sendo construída. Na chácara haviam muitas árvores e brincamos muito neste local na nossa infância.Foto fonte: Memorex Linhares Facebook

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O Natal


O Natal me traz tantas lembranças boas. Era tão bom abrir aquelas caixas,com cheiro de guardado,e retirar lá de dentro todos aqueles enfeites coloridos que nos traziam  tantas esperanças!
A responsável pela arrumação era Adriana, era a mais velha e tinha um talento todo especial para a decoração. A Jacqueline seguia as ordens de Adriana, distraía-se do objetivo com mais facilidade mas ficava lá até o fim. E eu, bem eu era a pequenininha, então a minha função principal era atrapalhar.
Tínhamos uma árvore verde de cerca de um metro e meio, todo o ano era a mesma. As bolas quebravam-se com muita facilidade, era nessa parte que eu atrapalhava mais. Todos enfeites eram lindos coloridos em formatos de bolas ou estrelas. 
As luzes eram magníficas, nunca mais ví igual. Elas eram uma ampola com um líquido colorido que quando ligava-se na energia pareciam que borbulhavam dando uma sensação de movimento na árvore. Ao fim passávamos ao redor da árvore enfeites prateados, simulando a neve. Tínhamos um sino dourado, a corda. Era, esse que as meninas me davam para eu parar de quebrar as bolas, quando eu puxava a corda ele tocava lindas canções natalinas. Depois o pendurávamos na porta entre a sala e a copa.
 Mamãe tinha uma toalha verde, muito bonita pintada por ela mesma quando aprendeu pintura com a tia Irene. Eu viajava nessa pintura, era o papai Noel muito risonho em seu trenó puxado por seis renas, e o trenó, é claro, cheio de presentes. Havia uma outra toalha azul também bem pintada com um enfeite de bolas e ramos de pinheiro prateados.
Depois de tudo em seu devido lugar, arrumado e decorado era bom colocar uma música natalina a tocar na vitrola e admirar as luzes brilhando na nossa linda árvore de natal.
Feliz Natal!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A vovó Petronilha

A minha bisavó materna se chamava Petronilha Reis, originária de Barra do Riacho. Casou-se com João Ribeiro de Paiva, provavelmente originário da Bahia, conforme pesquisas recentes que fiz da origem da família. Vieram morar em Linhares no inicio do século XX e se estabeleceram na rua Boa Vista. Em Linhares tiveram seus filhos cujos nomes começavam todos com a letra A: Arthur(falecido ainda criança),Aracy, Anita,Antônio,Alcy e Alvina. Esta era a família Reis Paiva.
Mulher dinâmica Dona Petronilha tinha uma horta no terreno em frente da sua casa e  no porão de sua casa ela iniciou a primeira padaria de Linhares, cheguei a conhecer as ruínas  daquele que um dia fora o forno.
Já vi fotos de minha querida bisavó de pé, mas até onde chega a minha memória só lembro dela numa cama, parece que ela levou uma queda num chão encerado e nunca mais andou. Ela era uma mulher magra, morena, sempre lúcida e muito amável. Mamãe amava muito a avó e nos levava para visitá-la com frequência. Ela tinha uma lata sempre com balas para nos dar.
Uma certa vez foi feita uma arrecadação de dinheiro na família para comprar para ela uma cadeira de rodas. Lembro de quando fomos dar um passeio com ela, aquela turma de bisnetos rumando para a pracinha dos bichos empurrando a nossa amada bisavó. Ela tinha um carisma enorme,  todos a adoravam! Quem ia empurrando era Sabrina, os maiores iam bem perto e os menores de passo mais curto, como eu, iam ficando para trás.
Não passou muito tempo desse passeio, que eu nunca esqueci, a nossa querida vovó Petró se foi. Não estou certa do ano, mas creio que tenha sido em 1973,mais ou menos.
Eu não entendia o que era a morte, mas nunca esqueci a cena de minha mãe sentada chorando e papai ao seu lado a confortando e eu agachada ao chão abraçada às pernas de mamãe sem entender o por que. Naquele tempo os velórios eram feito em casa então os adultos mandavam as crianças ir brincar lá fora, talvez para não presenciarmos a dor da perda ou para aliviar os que sofriam deixando-os chorar em paz, então a gente se dava as mãos e ia brincar de roda para passar o tempo.

"Eu não entendia o que era a morte"...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O leite

Comprar leite no início da década de 70 não era tarefa fácil como nos dias de hoje. Lá em Linhares não era diferente. Na nossa parte do Centro onde eu morava nós comprávamos o leite do Seu Azevedo  e Dona Mariquinha, leite este que vinha de sua fazenda.
No fundos de sua casa, na rua Professor Jones, havia um enorme portão de garagem pintado de preto com muro branco. Abria as 7h00 , mas o leite não tinha chegado ainda, o portão era aberto e aquela multidão começava a entrar nesta garagem que era bem grande e ali ficava esperando. Quando o leite chegava havia todo um ritual. Me lembro de uma mulata alta e bem esguia que fazia esse processo.
O leite chegava nos galões de metal e ali em frente aos fregueses o leite era coado , pela mulata, num pano bem branquinho e limpo depois de todo coado e livre das impurezas é que os fregueses começavam um por um a pagar e pegar o leite. Cada freguês levava o seu próprio recipiente.
 Quando chegava em casa fervia-se duas vezes e tinha que ficar tomando conta para não esburrar. Depois de fervido aguardava-se esfriar e quando frio criava uma nata grossa na superfície, tirávamos com a colher e guardávamos na geladeira para fazer manteiga caseira.
Passado um tempo os produtores de leite se juntaram numa cooperativa, a Camil, o leite passou a ser pasteurizado. Então acabou a magia de buscar o leite no seu Azevedo. Agora vinha um caminhãozinho pipa e nós iamos buscar o leite na rua, na esquina da Professor Jones com a João Felipe Calmon. Quando o caminhãozinho chegava tocava uma buzina avisando.
Quando eu tinha mais ou menos 8 anos eu fui decretada,lá em casa, a responsável por buscar o leite. Todo dia eu saia com o galãozinho de 3 litros.Acho que mamãe não gostou muito deste sistema do leite pasteurizado, eu ouvia os adultos dizendo que agora o leite estava fraco, parecia água e não tinha mais a nata grossa. Então voltamos a pegar o leite direto da roça, dessa vez na casa do tio Humberto e tia Aurora, ele era tio da minha mãe e irmão do meu avô materno. Para mim sair lá de casa para buscar esse leite era longe, eles moravam na Professor Jones lá no final em frente a pracinha. Era pesado eu vinha trocando de mão e as vezes parava para descansar de tão pesado que era. No caminho havia muita distração, tinha uma casa ao lado do seu Azevedo , aonde morava um primo da minha avó paterna, o seu Joaninho do cinema, e quando eu passava sempre parava para conversar com a Viviane sua filha, ela falava então chamando as suas irmãs:
- Olha só, quem está aqui!
Mais a frente, bem em frente a pracinha, passava o olho no meu querido jardim, o Menino Jesus, por alí sempre  tinha uma mulher a colocar o seu bebê para tomar sol, ela mostrava o seu bebê toda feliz,mais tarde entendi que era a esposa de Luiz Durão, que nesse tempo ainda não era prefeito.
Passado os anos, acabou-se o leite do seu Azevedo, o leite do tio Humberto e o leite do caminhãzinho, agora o leite era ensacolado. O leite passou a ser ditribuido nos estabelecimentos comerciais. Nesse tempo já existia a Skips, do outro lado da João Felipe Calmon, que era mais longe ainda, e era lá que eu ía buscar o leite nosso de cada dia.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Os Cinemas


Se existia um cinema novo , e por que existiu um cinema velho. Certo?
Exato. Era assim que os cinemas de Linhares eram definidos. O cinema novo e o cinema velho. E ainda por cima eram quase em frente um do outro. O pobre do cinema velho, conhecido também pelo vulgo poeirinha, nos áureos tempos era o Cine Teatro Elda. Era o cinema que a minha mãe ia quando era criança nos anos 50. Mas enfim os tempos passaram e no meu tempo de criança, anos 70, frequentávamos o cinema novo, cujo nome correto era Cine Delourdes. Adorava ver a cortina vermelha abrindo e fechando, era mágico. E o famoso jornal , Canal 100, antes do filme sempre falando da copa do mundo de 70, o nosso grande feito e mostrando os gols de Pelé.
Foi neste cinema que passaram os filmes que marcaram as nossas vidas: Se meu fusca falasse, 007, Meus filhos seus filhos e nossos filhos, Dio come ti amo , Os Trapalhões, Mazaroppi, os faroestes , O Exorcista( eu nunca assiti), Os embalos de sábado a noite, Grease e muitos outros.
Por falar no Dio come ti amo , lembro que teve uma mega promoção do sabão OMO. Você ia assistir o filme e ganhava uma caixa do sabão OMO. A minha irmã matava aula de inglês no Yázigi para assistir esse filme. O que ela fazia com o sabão só Deus sabe.
Uma vez saimos do cinema, meu pai veio nos buscar. Todo mundo entrou no carro, aquela turma de primas. Então ele perguntou:
- Cadê Jacqueline?
Nós todas nos olhamos com uma grande interrogação. Ninguém sabia. Papai correu de volta no cinema pediu o seu Joaninho para abrir pois já estava fechando. Quando chegou lá dentro Jack estava dormindo. Foi um grande susto!
Outra ocasião quando saimos do cinema novo depois do filme de Cristo, resolvemos passar lá na rua Boa Vista. Estávamos eu e Jack. Quando chegamos Vander e Marcos Vinícius estavam tendo uma briga com outro garoto. Quando pensa que não , recebi uma pedrada na testa , arremessada pelo tal menino. Fiquei toda ensanguentada. Chorando, gritando e aquele desespero. A briga acabou na hora pois o menino foi embora morrendo de medo.
O cine Elda fez uma grande reforma passando a exibir grandes filmes, assistí lá Os trapalhões e as minas do rei Salomão nas férias de julho.
Quando surgiu o filme do King Kong , foi inaugurado um cinema na rua da Conceição, o Cine Waleska que lançou o filme. Mas, quando fomos assistir era a primeira versão, em preto e branco. Que decepção! Ví muita gente saindo aborrecida do cinema.
Mais tarde surgiu o Cine Palácio, no fim do Anos 70. Nesse tempo todos os outros já tinham entrado em decadência .  Era um caminho sem volta.
hoje passando pela ruas de Linhares, os nossos cinemas viraram lojas e  mal podemos perceber aonde eram as salas de cinemas que nos contaram tantas estórias.




Cine Delourdes, anos 70 . Fonte Facebook Memorex Linhares

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Dama de honra

Fui dama de honra por duas vezes. A primeira foi quando eu tinha cerca de cinco anos no casamento de minha prima Tamara.
O meu vestido era vermelho, longo, cheio de florzinhas feitas com um boleador e tinha uma longa fita que fazia um laço bem bonito atrás.
No dia do casamento tiramos muitas fotos com o fotógrafo, que eu não sei o nome mas que lembro muito bem dele, eu me lembro que ele pediu para dar um beijo no rosto da noiva, mas era só pra fingir, e eu dei um de verdade, ai morremos de rir.
Foram feitos muitos ensaios na igreja para saber como eu ia entrar , e sair e aquela coisa toda, o único problema foi que não me falaram, é que eu ia ter que entrar de mão dada com o pajém. Aliás, não sabia nem que ia ter pajém. Só fiquei sabendo disso na porta da igreja. 
Ele era um menino muito bonito, loirinho e de olhos azuis, de vez enquanto ele tirava um pequeno pente do bolso e ajeitava o cabelo. Mas eu no meu desespero, não conseguia ver a beleza que hoje descrevo. Na minha cabeça, eu achava que todo mundo ia pensar que era eu que estava casando.
O segundo casamento que fui dama de honra já estava mais experiente,devia ter cerca de oito anos, não ia cair mais em nenhuma armadilha. Foi o casamento de minha prima Regina.
Éramos cinco damas , eu, Patrícia, Alvina, Libânia e Cláudia.
As quatro vinham atrás de mim, e eu vinha carregando as alianças na frente.
A roupa era uma saia longa rosa e uma blusa branca de laise. O problema, foi que a minha saia ficou longa demais e eu passei o maior aperto quando fui subir o altar que eu pisei na barra da saia  e esta ficou presa embaixo do meu sapato. Finalmente consegui me livrar da situação. Já pensou se eu caísse no meio do altar? 
Pensei que estivesse livre das armadilhas!
Vida de dama de honra não é fácil.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Rua da Conceição


Minha mãe, Dona Naiah nasceu, cresceu e viveu na rua Boa Vista , a rua paralela à rua da Conceição, até quando ela se casou na década de 60.
 Nos tempos de sua infância, ou seja, no fim dos anos 40 e início dos 50, era a rua da Conceição a rua mais movimentada de Linhares.
Alí estavam estabelecidas as casas comerciais de Linhares.
A Casa Progresso de Sr. João Gama, que era comércio de tecidos e em frente era a Casa Lopes do mesmo ramo, do outro lado da rua a venda do Seu Carlos, o português com secos e molhados, atrás da loja do Seu Carlos morava Dona Joana Lempé,mais a frente a pensão da Dona Isaura e em frente a Sapataria do Seu Menininho, ao lado da sapataria a farmácia do João Alemão, temido pelas crianças pois era ele que dava injeções e muitas outras residências e casas comerciais.
A vocação desta rua para o comércio se explica pelo fato de que a entrada de Linhares era feita pelo Porto das Pedras, aonde chegavam os vapores na ladeira abaixo da rua Boa Vista, no tempo em que não existia a ponte.
A Dona Aracy, mãe da minha mãe era uma pessoa muito geniosa e exigente, ela não saia de casa para fazer as compras dos alimentos. Ela mandava,sua filha, a Naiazinha buscar as amostras de feijão, arroz e carne sêca para que ela visse se era de boa qualidade e passar também os preços , aí então depois de passado pelo controle de qualidade ela mandava a Naiazinha comprar os alimentos. Quando a menina Naiah dobrava a esquina pela segunda vez os donos das lojas sabiam que ela estava vindo para comprar aí começavam a brigar entre eles pois cada um queria que ela entrasse na sua loja.
Deste núcleo comercial surgiram grandes amizades, o Seu Carlos Sôlha, o português tinha três filhos, Ulisses, Clarice e Marília, todos foram grandes amigo do Seu Joaquim e Dona Clothildes donos da Casa Lopes, papai tinha grande amizade com Clarice que foi a madrinha de minha irmã Adriana. Minha avó era amicíssima de Dona Joana Lempé, lembro-me de ter brincado muito com os netos dela na infância , e mais tarde quando mudamos para Vitória  reatamos a amizade de novo na adolescência com a Leandra uma de suas netas. Papai também foi amigo de juventude dos filhos do João Gama da Casa Progresso. E minha mãe, a filha compradora da Dona Aracy casou-se com o filho do Seu Joaquim da Casa Lopes.
E assim era a rua da Conceição, uma mistura de casas, lojas ,pessoas, amizades, afinidades e famílias.

Foto:A rua da Conceição, 1950
Fonte: Facebook Memorex Linhares

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Os freguêses da Casa Lopes


Vinha gente de tudo quanto era lugar, das Peróbas, dos Comboios,de Bananal, Córrego d'agua, Povoação, Regência.Todo aquela gente da zona rural passava pela Casa Lopes.
Dona Clothildes tinha um talento especial para o bordado, vivia sempre atarefada com alguma encomenda.
Uma grande freguesa e amiga de vovó era a Dona Filhinha das Peróbas.Mulher fina e educada. Tinha uma voz rouca, era alta e morena. Vinha sempre com sua filha Keila que era amiga da minha irmã Jacqueline.
Outro freguês e grande amigo de vovô que vinha de sua fazenda lá do Rio do Norte, era o Seu Deleumo. Era um homem grande, alto e forte. Parecia de origem alemã de tão grande. Sempre chegava com seu caminhão  lotado de sacos de laranja seleta, eram as melhores.
Tinha uma freguesa que vinha lá do interior dos cafundós, sempre bem vestida e maquiada com ruge e baton,cheia de colares e pulseiras, sempre proclamava um certo ditado que diz "quem não se ajeita, por sí se enjeita".
Seu Joaquim estava sempre atarefado na loja e sempre a espera de um certo amigo Tibúrcio. Conversando com minha mãe, perguntei quem era esse tal de Tibúrcio afinal, pois  eu nunca o vi. Aí ela me disse que Tibúrcio era o nome que ele dava a não importa quem, qualquer um que chegasse na loja podia ser o amigo Tibúrcio.
Mas de todos os fregueses da Casa Lopes, o inesquecível e mais temido de todos, para mim e acho que também para as minhas irmãs era o Chico Boneco. Só de ouvir esse nome já dava desespero...
Na verdade esse homem era apenas um fazendeiro inofensivo ,que vinha das bandas de Povoação, de pele escura e bem lustrada parecia que tinha sido feito de cêra, daí o apelido Chico Boneco.Bem vestido com uma jaqueta de couro preto e um chapéu, tentava se aproximar da gente dizendo que tinha umas balas no bolso. Mas nós não nos aproximávamos dele por nada, aliás, quando ele chegava na porta da Casa Lopes a gente já estava se escondendo, seja embaixo das prateleiras cheias de poeira ou atrás da porta, aonde a mais corajosa conseguia olhar de espreita, mas essa não era eu pois eu tinha um medo dele de me pelar.
Assim era o movimento da loja. Assim era a Casa Lopes. Um lugar aonde todos passavam e parecia que ali tudo acontecia.

Foto: Seu Joaquim e Dona Clotildes fundadores da Casa Lopes. Nesta foto com seu filho mais velho Jair Lopes

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A Casa Lopes

Por volta de 1945, meus avós paternos vieram se estabelecer em Linhares. Ele Joaquim Lopes Louzada, originário de Tombos de Carangolas, Minas Gerais mas já estabelecido na cidade de João Neiva há alguns anos.Ela Clothildes Curto, originária de Pendanga, filha de italiano legítimo. 
Casaram-se e viveram em João Neiva, tiveram três filhos. Jair, Neide( falecida ainda bebê) e Eldon. Enfim resolveram buscar novos rumos e estabeleceram-se em Linhares fundando a Casa Lopes.
A primeira Casa Lopes situava-se na esquina da rua Soeiro Banhos com a rua da Conceição, em frente a Casa Progresso.
Seu Joaquim era alfaiate, em sua loja praticava o seu ofício e vendia tecidos e roupas de cama em geral. Dona Clothildes era também costureira e bordadeira.
Os tempos eram difíceis não havia agua encanada. Os moradores tinham que buscar água no rio Pequeno, no porto das Pedras.
Os anos passaram, meu avô era um comerciante de visão.Percebendo que Linhares estava crescendo e o comércio saindo da rua da Conceicao , comprou um terreno na Av. Joao Felipe Calmon, para aonde levou a Casa Lopes, em meados dos anos 50. Nesta época os filhos já estavam grandes, então expandiu o comércio. 
A nova loja eram duas grandes portas, de um lado Seu Joaquim e Dona Clothildes continuavam com a loja de tecidos, cobertores, roupas, forrava-se botões, vendia-se linhas e agulhas e a outra porta era meu pai com material de construção e venda de gás de cozinha, fazia-se também conserto de bicicletas.
Assim nós crescemos, eu e minhas irmãs, entre as linhas de retrós e os carretéis, botões,prateleiras de tecidos e cobertores Parahyba da Casa Lopes, sempre por perto dentro da loja ou no quintal, que era atrás. Naquele tempo  essa era a rua principal de Linhares. Todo mundo que chegava em Linhares pela ponte Getúlio Vargas passava em frente a Casa Lopes.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

As lavadeiras e a boiada

Essa é das antigas. É dos tempos do seu Quincas Calmon, lá pelos anos 40 ,  minha mãe ouvia contar essa estória quando criança.
Todo ano na época das cheias o seu Quincas retirava o seu gado dos pastos que iriam se alagar. O rebanho era grande. Vinha lá da estrada do Bananal atravessava o rio Pequeno depois o rio Doce e era levado para  uma outra outra fazenda a qual não se alagava durante as cheias depois que passava a cheia ele voltava com o rebanho de novo para a suas terras.  Desse modo, essa transferência de boiada era conhecida e esperada, todo mundo sabia que ela vinha e voltava, era um grande evento e todo mundo fica esperando esse dia.
Naquele tempo, era muito comum as lavadeiras lavarem as roupas no rio Pequeno. Mas a notícia que a boiada ia passar a qualquer momento estava as deixando inquietas. Lava ou não lava? E se a boiada passar? Vai levantar aquele poeirão e vai sujar tudo. E a hora já se adiantava ,a boiada não passava e as lavadeiras de braços cruzados esperando. Foi quando finalmente elas começaram a labuta, convencidas de que a boiada não vinha naquele dia.
Lavavam grandes lençóis brancos  e estendiam na relva para secar. De vez em quando alguém olhava la para as bandas da estrada e nada. Então ficaram  tranquilas e até esqueceram da boiada.
De repente , uma delas dá um grito: 

- Válha-me Deus! Nossa Senhora! 

E a lavadeira pôs-se a correr a ladeira das pedras acima.
As outras lavadeiras, não mais do que depressa embolaram os seus lençóis desesperadamente jogando dentro das bacias na esperança de salvarem o trabalho até então executado. Foi aquela confusão de gente correndo, catando cavaco, procurando as bacias, catando roupa e salve-se quem puder!
Foi quando então, que as lavadeiras olharam para a estrada e se deram conta que não havia poeira e nem boiada.
Quando olharam para a ladeira foi que entenderam o que estava acontecendo e ficaram muito aborrecidas.
A tal lavadeira que subiu a ladeira acima correndo e gritando vinha toda risonha abraçada ao seu mancebo que tinha acabado de chegar de viagem.

domingo, 6 de dezembro de 2015

O quintal

No fundo do prédio tinha um quintal e colado à loja foi construída uma cozinha com acesso para a loja , assim minha avó podia cozinhar e atender na loja quando sobrava tempo. 
No quintal também tinha um poço artesiano e umas caixas d'agua térreas que pareciam umas piscinas. Minha mãe morria de medo de nós cairmos dentro do poço e como já estava desativado, por volta de 1972, com o nascimento do meu irmão finalmente ele foi  soterrado com entulhos.O quintal era nosso espaço nossos velocípedes ficavam lá nos esperando, tínhamos um balanço de ferro e árvores , pé de manga e pé de abacate. Lá nesse quintal também tinham umas formigas, muito malvadas, enormes e dotadas de uma puã na cabeça e quando elas mordiam doía muito, e elas não largavam, não sei por que elas adoravam a minha irmã Adriana. Sem falar na formiga-fogo que era fogo mesmo. Ele era cercado por muros com sistema de segurança de última geração, os cacos de vidro.Esse era nosso mundo alí brincávamos de casinha, boneca, marelinha,roda, pega-pega, cozinhado. Quando acabava a brincadeira a gente cantava:
"Acabou a brincadeira,  Olê, olê, olá!" 
E quando o quintal estava cheio de folhas que caíam das árvores a gente varria e depois fazia uma fogueira. Ficava aquele cheiro de fumaça no ar.
No quintal tinham os varais para estender a roupa pra secar. Era gostoso ver os lençóis voando ao vento.
No fim do dia nada melhor que subir pra tomar banho e jantar pois no dia seguinte tinha muita brincadeira pra fazer de novo no quintal.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O prédio

Morávamos na Av. Joao Felipe Calmon, 454. Um prédio do estilo dos anos 50. Foi construído pelo meu avô Joaquim Lopes e seus filhos.
Embaixo do prédio haviam duas grandes lojas, nessas duas grande lojas que se comunicavam pelos fundos funcionava " A Casa Lopes", tinha também uma outra pequena loja que servia mais de depósito e uma porta da rua para a escada que levava ao andar de cima.No primeiro andar haviam dois apartamentos um onde morávamos e no outro os meus avós paternos. No andar de cima haviam mais dois apartamentos de aluguel e uma suíte aonde morava tia Dalila. No fundo do nosso apartamento tinha uma escada que dava acesso ao quintal.
Era muito bom morar ao lado dos avós que estavam sempre prontos a cuidar de nós e tanto eles quanto meus pais trabalhavam logo em baixo, na Casa Lopes.
Nos meus primeiros anos o assoalho da nossa casa era de taco encerado. Lá em casa tinha um escovão de ferro, bem pesado, que era usado para dar brilho após a cêra. Depois papai comprou uma enceradeira elétrica. 
A tia Dalila que morava no segundo andar era muito caprichosa, então tinha um moço que vinha periodicamente encerar o chão do seu quarto. Se eu não me engano a gente chamava ele de João Gato por que ele miava igual um gato de verdade. A cêra usada era a Parquetina e no símbolo desta cêra tinha o desenho de um homem que eu achava muito parecido com ele. O cheiro da cêra no ar era bom. Cheiro de casa limpa e arrumada para o fim de semana.
Mais tarde por volta de 1973 papai mandou passar sinteco no assoalho. Ficou lindo, super brilhante. Mas acabou a magia do cheiro de cêra no ar e de passar a enceradeira também o que era muito divertido.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

As casas comerciais da Av. João Felipe Calmon

A Avenida João Felipe Calmon do fim dos 1960 e início dos 70, era muito movimentada, foi quando o comércio de Linhares começou a sair da rua da Conceição e passou a se expandir para esta avenida. Abaixo cito as lojas que tenho em minha memória se faltar alguma adicione nos comentários abaixo.Começando na loja do meu avô e indo em direção a pracinha do relógio ( Praça Nestor Gomes):
 Casa Lopes ,que era a loja do meu avô;
 Banco Banestes,  na esquina com a rua João Francisco Calmon,Atravessando a rua;
 Casa Pai João, artigos de umbanda, bem na esquina;andando um pouquinho mais,
 Bazar Moscoso;
 Loteria esportiva;
 Vidraçaria Gonçalves;
Sapataria Mister, aquela da marelinha macaca na calçada;
 Palácio das Linhas;
 Bar Sport, o melhor picolé de Linhares;
 Atravessando a Avenida Augusto de Carvalho,
Mini Bar, o favorito da criançada para comprar chicletes Ploc e balas;
 Bar Ponto Certo, segunda opção quando faltava no Mini Bar;
 A  Garota;
 A Estrelinha;
 Farmácia Klinger, do Seu Argeo; 
A Camponesa Restaurante;
Hotel Lempé;
Farmácia Coelho, do seu José;  
A Casa das Noivas , quase na curva da pracinha; 
Casa Verde, já ficava em frente a praça:

Passando agora para o outro lado da rua , era menos movimentado, mas tinha algumas lojas também. Agora voltando em direção aonde comecei,

 Lojas Ferzali;
 Cartório Quitiba;
 Posto Central;
 A Carioca;
 Concessionária de automóveis Chrysler em frente a Casa Lopes e
Lava-jato. 








quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O mini-bugue

Meu pai se chamava Eldon Lopes Louzada, muito conhecido em Linhares por ser comerciante. Mas havia uma característica nele que ultrapassava qualquer outra qualidade boa ou ruim que ele pudesse ter. Ele era "Eldon,o eterno jovem".
Pois então, ele comprou um mini-bugue , nāo sei bem que ano talvez 1977 ou 1978.
Quando meu pai apareceu em casa com aquele mini-bugue fomos à loucura. Era um Fapinha em fibra de vidro. Cor laranja e uns detalhes em preto. Cabiam apenas duas pessoas.Todo mundo queria dar uma volta. 
No começo ele passeava com a gente. Mas nós queríamos mais. Queríamos dirigir o bugue. Então, ele começou a nos ensinar a dirigir aos domingos num terreno baldio, muito grande , que havia ao lado da nossa casa na Avenida João Felipe Calmon. Ficávamos dando voltas e voltas, eu , minhas irmãs e primas . O negócio virou atração na cidade. Enquanto a gente estava dando nossas voltas, todo mundo que passava queria parar para ver, juntava aquela multidão. Principalmente os meninos, os vendedores de picolé e os marmanjos também.
No fim de semana seguinte,quando meu pai foi dar a volta dominical no seu bugue no terreno,os meninos começaram a pedir para dirigir e queriam pagar para dar a volta. Lembro de papai chegando em casa com os bolsos cheios de dinheiro.
Ele vivia passeando com seu mini-bugue, foi quando ele foi nas festividades de inauguração da ponte do Interlagos(se é que um aterro pode se chamar de ponte)e um caminhão dando ré escapou de passar por cima por que não tinha visto. Foi por pouco!
Quando o verão chegou fomos nós para Conceição da Barra passar a temporada, é claro que o bugue foi também. Minhas irmãs adolescentes não largavam o bugue por nada, era até difícil para mim chegar perto de tão disputado. Mas de vez em quando tinha a chance . Andávamos com ele na beira da praia quando a maré estava bem baixa.
No fim do verão tínhamos que voltar para casa em Linhares. Não me lembro como o bugue chegou na Barra mas o retorno para Linhares foi inesquecível.
Papai tinha um Chevete branco, ele pegou umas cordas e amarrou esse bugue em cima. Ele entrou no carro e partiu rumo a Linhares, Masterson e Sheyla estavam indo de carona. Dizem que a viagem ia tranquila, mas papai gostava de correr um pouco, num certo ponto, numa curva as cordas não aguentaram. Arrebentaram levando o bugue pelos ares. O bugue ficou em estado irreparável.
Então, assim sem conserto , a sucata do bugue foi transferida para o nosso quintal aonde olhávamos com tristeza aquele que nos proporcionou tanta alegria e agora fazia parte apenas de nossas boas memórias.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

As estórias de Naiazinha

Quando eu era pequena mamãe contava umas estórias que ela dizia que eram verídicas, mas sinceramente  eu já duvidava da veracidade naquele tempo. Elas eram mais engraçadas do que verídicas, as vezes nem tão engraçadas mas dramáticas,  aliás acho que eram engraçadas por que eram dramáticas, enfim o que eu sei é que ela conta essas estórias até hoje e os netos se deliciam em ouvir e reouvir e nós  os filhos morremos de rir outra vez das estórias. Leia abaixo:

O estudante de medicina

Havia um rapaz que estava estudando medicina. Era um jovem muito aplicado nos estudos.
Durante a aula de anatomia ele não conseguiu fazer as observações necessárias do fígado humano e como ele ia fazer um teste ele decidiu levar o fígado para casa para poder estudar.
Chegando em casa o dedicado estudante guardou o fígado na geladeira e foi tomar banho. Enquanto ele estava no banho a sua mãe chegou em casa. Estava atrasada para preparar o jantar. Não sabia o que preparar. Pois quando abriu a geladeira e viu aquele fígado bonito prontamente pegou o fatiou e o fritou.
Quando o dedicado estudante foi jantar e viu o feito ficou desesperado.

As ostras do paquete

Um certo paquete ficou a deriva no mar. A comida já tinha acabado. O socorro não chegava. Os passageiros estavam esfomeados.
O capitão não sabia mais o que fazer.Foi quando um de seus tripulantes viu,agarradas ao casco do paquete ,muitas ostras e levou a noticia ao capitão.
Imediatamente o capitão ordenou que o marujo retirasse as ostras do casco e foi preparada uma grande refeição o qual todos comeram.
Quando finalmente o socorro chegou para o resgate encontrou todos mortos.
Haviam sido envenenados pois as ostras estavam contaminadas.

O homem e o bife

Estava um certo senhor aguardando a barca em Niterói para atravessar para o Rio de Janeiro. Naquele tempo não havia a ponte, o problema é que a barca estava atrasada e já era a hora do almoço.
O senhor queria esperar a barca para então almoçar do outro lado. Mas nada da barca chegar.
Finalmente aquele senhor não mais se aguentando de fome fez o pedido de uma refeição. Quando o prato chegou aquele bife acebolado com aquele cheiro maravilhoso e mais a fome , que era grande, abriu ainda mais o apetite. O senhor então deu a primeira garfada e a barca chegou. Os passageiros foram correndo para entrar na barca. Ele ficou desesperado não sabia se comia ou se corria para a barca. Queria comer , mas não podia perder a barca pois a próxima era somente no dia seguinte. Naquela indecisão, desesperado o pobre coitado do homem colocou o bife inteiro na boca  e tentando engolir ficou entalado. Precisou ser socorrido perdendo a barca e dizem que assim ele morreu.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Jardim de Infância Menino Jesus

Para quem não sabe, no local aonde hoje é a pracinha  Vinte e Dois de Agosto , em Linhares, no passado ela era conhecida como a pracinha dos bichos e no terreno enorme que ela ocupava coexistia um jardim de infância.  O Jardim de Infância Menino Jesus.
Este jardim ficava na esquina da rua da Conceição com a rua Professor Jones e foi a minha primeira escola.
Lembro muito bem da minha mãe me explicando que eu ia para o jardim, então ela me mostrou uma merendeira, tudo de plástico, nada térmico como os dias de hoje. O uniforme era uma gracinha uma blusinha rosa com o bolsinho bordado "JIMF" ,bordado feito à máquina,pela minha avó Clothildes,a sainha azul plissada e sapatinho preto de verniz, para os meninos uma bermudinha também azul. Então em 1972 eu estava pronta para ir à escola pela primeira vez.
A escolinha tinha um prédio principal, aonde funcionava a diretoria e dois pavilhões abertos e cobertos  aonde eram as nossas classes, eles ficavam em oposição de modo que o espaço no meio era livre e aonde passávamos os nossos recreios. A escola não era longe de casa, então mamãe me ensinou a ir e voltar sozinha.
Antes de  entrar na classe nós formávamos filas duplas. Cantávamos uma canção e seguíamos para a classe.
A minha primeira professora se chamava Dona Consenir. Que mulher bondosa! Era um anjo. Agradeço a Deus por tê-la tido no início da minha vida escolar.
Entre os meus coleguinhas de escola lembro de Katinha, que era minha vizinha e foi minha primeira amiga da vida. Nunca esquecí dela! Íamos juntas para a escola, mas não estudávamos na mesma classe, a professora dela era a Dona Jolinda.  Outro coleguinha  que me lembro era de Arlindo, ele era filho da Dona Consenir, estudei com ele ao longo do primário, grande companheiro. Outros me lembro vagamente.  Lembro de uma vez na fila quando Vaninho gritava , dizendo que estava com dor na goela, para sua irmã que estava aguardando a turma entrar para depois ir embora, acho que ele não queria ficar na escola. Engraçado foi que nessa cena a irmã do Vaninho deixou escapar um lenço da mão e quando ela foi pegar ao chão ela o fez tão graciosamente, e eu achei tão bonito que eu passei muito tempo querendo imitar  o ato sem sucesso, coisa de criança.
Na escola aprendíamos a escrever, a cantar, a obedecer e respeitar.
No tempo de festa junina era muito bom, a gente dançava quadrilha e tinha pescaria que era amelhor coisa  da festa.  Nas  paradas de 7 de setembro, os desfiles eram artísticos com carros alegóricos, rainha do cacau, muitas bandeirinhas e fitas cor verde e amarelo. Íamos impecáveis para o desfile. Foi nesse ano que desfilei de bicicleta, com rodinha, pois ainda não tinha equilíbrio, experiência não muito agradável pois não sabia andar na bicicleta e a rua de paralelepípedo não ajudava em nada.
No fundo da escola não tinha muro era um cercado igual a uma rede. Então me lembro uma vez, que eu estava na hora do recreio e minha prima Beatriz apareceu na pracinha do outro lado do cercado e fizemos um grande bolo de areia eu no lado da escola e ela no lado da pracinha. Quando me dei por conta o recreio já tinha acabado, estava todo mundo na classe e eu estava ali com Beatriz construindo o maior bolo de areia das nossas vidas , eu estava cheia de areia da cabeça aos pés, então batí a areia da roupa limpei as mãos, esfregando uma contra a outra, e voltei correndo para a classe. De vez em quando, nas tarde quentes,mamãe passava na escola pra buscar mais cedo para irmos tomar banho na lagoa Nova,e quando eu chegava no carro aquela turma de irmãs e primas estava aguardando ansiosa, eu ia de uniforme mesmo, mal podíamos esperar  para nos refrescarmos nas águas da bela lagoa.
Nesse ano  o meu irmão nasceu. Estava eu no recreio quando os meus vizinhos , irmãos da Katinha, vieram me avisar que mamãe tinha chegado da maternidade eu fui então pedir a professora para ir embora, e ela deixou.  Fui para casa correndo com eles para ver o meu irmão em casa pela primeira vez.
Chegado o fim do ano todos graduados no jardim de infância, estávamos prontos para ir ao pré-primário. Era apenas o começo de uma longa caminhada escolar. O Menino Jesus fechou. Não sei se foi logo que eu sai de lá ou mais tarde. Só sei que me lembro de passar em frente quando ia brincar na pracinha e ver o meu querido jardim de infância esquecido, abandonado e perdido no tempo. Na sequência, aquele que um dia fez parte da minha história e de onde trago tantas boas lembranças,foi demolido e no seu lugar foram construídos módulos que ficaram abandonados por muito tempo, levaram embora o jardim de infância e tomaram também o lugar da nossa pracinha dos bichos que entrou em decadência. Mais tarde esses módulos foram transformados no Fórum de Linhares.






quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A rua Boa Vista

A rua da minha infância!
Era lá, que corríamos descalços, brincávamos de pique-esconde, pique-alto, pique-baixo, pique-cadeia. Lá também, brincávamos de roda cantarolando assim:

   "Fui na Espanha buscar o meu chapéu,
   Azul e branco da cor daquele céu..."

Coisa boa era quando faltava energia e a gente ficava a observar as estrelas. Enquanto isso alguém saia de fininho pra se vestir de fantasma e assustar a criançada. Nem preciso dizer que a tia Anita era mestra nestas traquinagens.
Éramos quase todos da mesma família. A rua era quase toda nossa. Tinha muita criança naquela rua.
Numa casa morava  a tia Alcy, na outra a tia Naiade, na outra a tia Anita e na outra minha avó Aracy.
Na frente da casa da tia Naiade , antes da minha avó  construir a sua casa, havia um terreno enorme, que pertencera a minha bisavó no passado. Este terreno.  Era conhecido como " A horta". Era conhecido por este nome pois nos tempos da infância da minha mãe a Dona Petronilha, que era minha bisavó, alí tinha uma horta. Este terreno vasto arborizado era o lugar mais divertido para nós, tinha um pé de abíl, uma fruta muito bonita de casca amarela e caroço preto, deliciosíssima!
Éramos muitas meninas, todas primas. Alí tínhamos o nosso clubinho feminista. Nesse clubinho planejávamos estratégias, fazíamos planos e ensaiávamos os nossos teatros. De vez em quando a gente fazia cozinhado.
O cozinhado para quem não conhece, consistia em fazer uma fogueirinha de gravetos, pegar um punhado de arroz, escondido da mãe, e cozinhar numa lata de sardinha. O arroz ficava deliciosamente com sabor de fumaça. Sabor que nunca me saiu da memória.
A rua era descalça,então com a erosão formavam-se buracos nos lados da rua , que tinha uma ladeira, e que quando chovia tranformavam-se em verdadeiros rios , e como nós tínhamos muita imaginação ali brincávamos de barquinho, fazendas e pegávamos folhas de árvores e pequenos galhos e íamos colocando nas margens do nosso rio.
A rua foi calçada em 1975. Foi nessa época que eu aprendi a andar de bicicleta sozinha. Mais ou menos nessa época minha avó construiu a sua casa no terreno da horta, o outro lado da horta foi vendido. Logo colocou-se um quebra-molas pois os carros passavam correndo muito na rua agora calçada. Era o "progresso" chegando.
Ao longo dos anos a rua foi perdendo os seus encantos, seus espaços, seu brilho. As crianças foram crescendo, os antigos foram morrendo e levando consigo muitas das alegrias que nos proporcionaram.
A rua ainda está lá. Muitos da família ainda lá moram. Mas a rua Boa Vista da minha infância, só existe no meu coração e no coração de que viveu lá  naquele tempo.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O café morno

Dona Aracy Paiva Fernandes, era minha avó materna. Uma figura adorável , de personalidade forte e um tanto ou quanto caricata. Todo mundo que a conheceu tem alguma coisa engraçada pra contar de algo que ela tenha dito. Um desses "causos" é a estória do café morno.
Há muito tempo , não sei quando, a Dona Aracy estava com um pedreiro fazendo um serviço em sua casa.
Ela era aquela pessoa que todo dia preparava aquele café bem quente a tarde, então, vendo o pedreiro trabalhando tão árduamente resolveu agradá-lo com um café que acabara de fazer, ela colocou o café no copo e foi levar para o pedreiro:

  -Olha aqui seu moço acabei de preparar esse café. Toma um pouco.

O pedreiro deu um gole. Ela então perguntou:

  - E então? Está bom?

O Pedreiro olhou para o copo , olhou para a senhora e disse:

  - É tá bão minha senhora. Mas está morno.

 Dona Aracy incrédula volta para dentro de casa, sem nada entender. Como pode ser? Acabei de fazer esse café! Ela pensava.  - Mas deixa...deixa estar !Amanhã ele vai ver o que é um café quente.  Vou fazer um mais quente ainda.
No dia seguinte ela preparou o café pelando de quente e levou de novo, bem rápido para o pedreiro.

   -Seu moço, olha aqui um café  que eu acabei de fazer.

O homem dá o gole e ela logo pergunta:

  -E ai? Está bom?

   -É assim né dona, tá meio morno né. Respondeu o pedreiro.

Dona Aracy volta pra dentro de casa irritada, ela pensa : que diacho,  que que esse homem está  pensando?  O café  está pelando, e ele me diz que está morno! O que que ele está querendo? Não é possível? Só se ele tiver querendo que eu ponha o coador direto na boca dele. Talvez aí ele fique satisfeito.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

As galinhas da tia Anita

Uma certa vez mamãe encontrou sua tia Anita na rua, alí no centro de Linhares, foi quando a titia disse que estava indo ao supermercado comprar uns milhos pra suas galinhas: 
- Ah, sabe Naiazinha, disse titia, minhas galinhas estão precisando ficar um pouco fortes, fico até com pena das pobrezinhas, só comem restos de comida, estou indo ali no Seibert, vou comprar um saco de milho e tenho certeza que elas vão gostar.
Passado um tempo mamãe foi visitar tia Anita, estava curiosa pra saber se as galinhas haviam engordado com o milho, mas qual não foi a surpresa quando a titia disse :
- Ah , Naiazinha você nem sabe! Disse a tia Anita com aquele seu jeito irônico, pois eu joguei o milho e elas nem sequer vieram bicar. Galinhas metidas a besta. O que elas gostam mesmo é do resto de comida. Quando jogo estes elas vem correndo.
As duas então caíram na risada.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Dona Maria, a lavadeira

Quando eu era pequena, antes ainda do meu irmão mais novo nascer, talvez ainda por volta de 1970, minha mãe tinha uma lavadeira que se chamava Maria.
Toda segunda-feira lá em casa era dia de preparar a roupa pois a lavadeira vinha buscar. Lembro da minha mãe preparando aquela pilha de roupa numa grande trouxa, e uma vez por mês minha mãe entregava à Dona Maria um quilo de sabão em barra e uma caixa de sabão em pó OMO, era o sabão para lavar as nossas roupas por um mês. E lá vinha Dona Maria buscar a trouxa. Ela era uma mulher baixinha, redondinha e não tinha dentes, sempre de bom humor e com aquele sorriso largo e simpático. Muito conversadeira ela sabia do desejo da minha mãe ter um filho homem, após três meninas na casa ela sabia que Dona "Iaiá"( na verdade minha mãe se chama Naiah) era louca pra ter um menino. Mas Dona Maria estava muito satisfeita pois ela já  tinha o seu menino que devia ter cerca dez anos.  Assim um dia ela nos convidou para o aniversário do seu filho. 
Ela morava numa casinha branca, no centro de Linhares.Casinha humilde duas janelinhas na frente, uma porta no meio, não tinha nem muro nem cerca, tinha um pequeno degrau de madeira na frente da porta. Nesta época eu devia ter cerca de três ou quatro anos, mas tenho boa memória então me lembro de muita coisa. O bolo era branco, redondo e tinha um boneco em cima , representando o aniversariante. Ali chegamos e sentamos na pequena sala ao redor do bolo, mas para mim tudo parecia tão longo e enfadonho pois nada acontecia ficamos olhando o bolo até que finalmente fomos embora, não tenho lembrança do bolo sendo cortado. 
O tempo passou minha mãe mudou de lavadeira, era muito comum mudar de lavadeira, parecia que depois de um tempo não dava mais certo. Minha mãe engravidou e teve o tão esperado menino a notícia correu em Linhares, finalmente Dona Naiah teve o menino tão desejado. 
Havia  muito tempo que não víamos a Dona Maria.
Foi então que um dia mamãe estava passando de carro pela rua,eu e minhas irmãs sentadas atrás,e lá vinha ela que quando viu Dona "Iaiá"não hesitou e fez sinal para parar,aí com aquele seu sorriso largo  e ingênuo na maior  demonstração de alegria soltou a frase que nos fez achar graça e tornou-se inesquecível na família: 
      - Dona "Iaiá" quero te dar os parabéns! Até que enfim a Senhora teve um OMO.

Um passeio no rio Doce

Em 1978, fizemos um passeio pelo rio Doce.
Eu tinha um tio que era um desbravador,  Marísio  Paiva Fernandes. Ele foi criado , assim como minha mãe, Naiah Paiva Fernandes, e todos os seus demais irmãos nas margens do rio Pequeno, na desembocadura para o rio Doce. Eles conheciam tudo isso como a palma da mão.
Bom, eu no "alto" dos meus 11 ou 12 anos não conhecia muito bem a geografia de Linhares, mas o meu querido tio e padrinho sem saber me deu a mais bela lição de geografia da minha vida. 
Fizemos um grande passeio de barco. 
O barco foi nos apanhar no rio Doce. Quando falo nós refiro-me à criançada , éramos tantos primos e primas... Bem, então entramos no Milagre, sim o nome do barco era Milagre. Então fomos. Atravessamos  o rio Doce, atingimos o rio Pequeno entramos pela lagoa Juparanã e atingimos a praia de Atahualpa, naquele tempo ainda não era conhecida como Minotauro. Foi aí que eu entendi como os rios e as lagoas se entreligavam, minha lição de geografia. Que imensidão d'água, que beleza! E a brisa fresca em nossos rostos infantis.Chegamos lá cantando "Glória, glória aleluia"guiados pelo Capitão Marísio para um belo dia de domingo em família, pois outra parte do grupo foi de carro e já estavam nos esperando com a brasa quente para o churrasco na beira da lagoa.
Boas lembranças de um tempo...
Meu tio já se foi. Nunca tive a oportunidade de lhe agradecer por este passeio inesquecível no Milagre.