quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Prédio Novo

Os anos 71 e 72 foram anos de grandes mudanças para nossa família.  Em 1971 a tia Dalila foi-se embora para Cachoeiro, em 1972 meu irmão nasceu e logo depois meus avós mudaram-se para o novo prédio que meus pais haviam construído na Av. Comendador esquina com Monsenhor Pedrinha.
O prédio ainda não estava completamente pronto, levou anos para ser terminado. Mas a apartamento de vovó e vovô  ficou pronto para eles morarem. Me lembro direitinho do dia da mudança pois foi muito difícil tirar os móveis do prédio antigo, a escada era muito estreita para passarem com os móveis, papai como sempre com suas idéias engenhosas resolveu tudo.
O novo apartamento era lindo, todo sintecado. Naquele tempo era o que havia de mais moderno, me lembro como era brilhante. Adeus escovão,  cera parquetina, palha de aço. O sinteco veio para ficar.
O apartamento era enorme, a gente se perdia lá dentro de tão grande. O banheiro era tão imenso que  quando nós ficávamos là virava a nossa grande diversão, jogávamos água por todo o banheiro e depois ficávamos escorregando no chão molhado. O problema era a água fria. Meus avós  não tinham água quente para o banho, eles diziam que não era bom para a saúde, era tão difícil tomar banho na água fria que tivemos que desenvolver técnicas de como entrar na água sem sofrer. Uma delas era a brincadeira de escorregar.
Os móveis do quarto dela era todos em peroba,  eram muito pesados. Mas eram bonitos, envernizados e combinavam com o sinteco novo. Em cima da cômoda havia a foto de um menino, eu achava que era a foto de Bebeto, sobrinho dela. Mas ela dizia que era a foto de Leandro. Infelizmente não sei quem era esse Leandro.
O sonho de vovó  era ter um fogão  à lenha, então foi feito um fogão a lenha especialmente para ela. Era tão bom aquele cheiro de lenha queimando e aquele cheiro bom do frango que ela fazia. Quanta Saudade! Uma coisa que eu adorava fazer era que eu molhava a mão  e depois balançava para ver os respingos d'água fritando na chapa.
Na sala havia um jogo de sofá decorado com almofadas feitas em crochê, num outro canto ficava o sofá da tia Dalila, um sofá de dois lugares que ela deixou pra trás quando mudou-se, nesta sala ficavam também duas máquinas de costura , uma manual que era a máquina que ela fazia seus bordados e uma outra elétrica  a " Vigoreli",  a qual ela não usava nunca, a Dona Clothildes era resistente à modernidade. Num canto ficava a televisão e em cima dela ficava um rádio. Estes aparelhos eram daqueles que você liga e eles demoram a começar, então eu ligava a TV ou o rádio e ia fazer alguma coisa, demorava cerca de 5 a 10 minutos.
No fim da tarde vovô chegava da roça com sua bicicleta. Sempre trazia alguma coisa, seja um aípim ou umas folhas para uma infusão que ele tomava naquelas canecas esmaltadas.
No primeiro andar aonde eles moravam havia uma sala que logo foi alugada. Ali funcionou o salão de beleza "Dajuê", pertencia a  uma jovem cabeleireira muito simpática a qual não me lembro o nome e  que hoje faz sucesso em Nova York com suas irmãs as famosas J Sisters. O salão era moderno para a época com
espelhos grandes e redondos e móveis em fórmica.
No térreo o meu pai tinha o  Supermercado Santa Mônica.  Este supermercado funcionou por algum tempo mas não foi em frente. Mas ele existiu o suficiente pars me deixar memórias. Me lembro de mamãe trabalhando no caixa e também de uma máquina de café. O café  o  era servido numas xícaras  brancas, pequenas e estavam f sempre quentes, o cheiro de café no ar era constante.  Papai recebia uma revista mensal chamada Super Hiper,  era uma revista informativa do mercado de alimentos. Eu não sei quanto ao meu pai, mas eu me deliciava lendo-as, pois tinha uns quadrinhos muito engraçados no final de cada edição.
Como o segundo andar não estava pronto de vez em quando a obras recomeçavam, aí começava aquela movimentação de pedreiros, sobe e desce com latas e mais latas de massa, e aquele  cheiro cimento molhado no ar. De vez em quando eu topava com o Chico Boneco que vinha procurar vovô Joaquim, eu corria a me esconder. Tinha um medo enorme daquele homem.
No segundo andar, quando ficou pronto, lá pelos anos 77 ou 78 funcionou o Turismo Palace Hotel, de propriedade do meu pai Eldon Lopes Louzada.
E assim se passaram mais alguns anos de ouro de nossas vidas.





Nesta foto podemos ver o antes e o depois do prédio,  no canto direito a foto preto e branco obtida através do Memorex Linhares em 1973, e a foto colorida atual tirada hoje 19/01/2017. Esquina da Rua Monsenhor Pedrinha  com Av. Comendador Rafael, Linhares, ES.



sábado, 12 de novembro de 2016

As Bonecas de Papel

A boneca de papel na década de 70 era um brinquedo muito acessível e realizador de  todos os sonhos das meninas em matéria de moda. Aquelas bonecas além  de  lindas se vestiam  com as roupas mais transadas do momento,as quais nós,  meros mortais nascidos no "país de Linhares", não tínhamos acesso na vida real. Nesse tempo eu devia ter uns 8 anos.



Tinha um loja de revistas que ficava ao lado da Skips, embaixo do edifício Patrícia, no centro de Linhares. Eu era frequentadora assídua desta loja de revistas pois, amava as revistinhas em quadrinhos e minha segunda paixão eram as bonecas de papel.
Me lembro muito bem uma ocasião que eu comecei a juntar dinheiro do troco da merenda para comprar uma boneca de papel. Cuidadosamente guardava os trocados no fundo da minha gaveta de roupas. Quando cheguei a quantia de um cruzeiro era o suficiente para a realização do meu sonho. Então peguei meu um Cruzeiro na hora de ir para a aula de inglês que era no então edifício Patricia, ah !meu Deus... as aulas de inglês no Yázigi... isto ai é outra estória...enfim quando saí da aula de inglês passei na banca e comprei minha boneca de papel. Mas, não sei porque fiz tudo isso em segredo.
                                                Me lembro que nessa época com esse dinheiro eu comprava 5 picolés na escola

 Acho que eu tinha medo de falar para mamãe que eu tinha juntado o dinheiro. Na minha mente ingênua eu achava que ela ia brigar comigo. Então, coloquei a boneca dentro do caderno e fui para casa, quando minhas irmãs chegassem da escola  iríamos nos deliciar recortando e brincar. Só que, quando eu cheguei em casa mamãe veio me perguntar o que eu havia estudado na aula de inglês, eu mais do que depressa abri o caderno em cima da página  da boneca. Ao invés de dizer a verdade eu disse para ela que era da minha colega que havia esquecido comigo e que eu ia devolver.
Mais tarde quando as meninas chegaram da escola estávamos ao redor de Adriana que recortava a boneca cuidadosamente. Mal podia esperar para brincar com a boneca tão linda e comprada com minhas economias. Foi quando de repente mamãe chegou e me falou:

- O que é isso?  Você não disse que essa boneca era da sua colega? Como é que você está recortando?

Mamãe não era mansa não.  Me pegou e  me levou para o quarto, para o interrogatório. Depois de muito choro e lágrimas eu confessei a verdade que não era motivo nenhum de vergonha. Então mamãe me liberou para ir continuar a recortar a boneca pois acreditou em mim. Mas para mim perdeu a graça, quando eu olhava a boneca eu chorava. A alegria foi-se embora.
Mas não demorou muito, pois, essas bonecas eram de papel e não eram duradouras, outras bonecas vieram e fizeram nossa alegria como de costume com seus modelos super fashion mas, uma lição eu aprendi e esta ficou para sempre o melhor é sempre dizer a verdade.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os Nossos Brinquedos

Quantas boas lembranças tenho dos nossos brinquedos. Na verdade cada uma tinha os seus, mas no fim das contas brincávamos juntas então o amor pelos brinquedos era o mesmo.
Quando era bem pequenininha, tínhamos um topo gigio, não sei a qual de nos pertencia, só sei que era amado por todas nós.
Nosso Topo Gigio era igualzinho a este aqui

Adriana tinha uma boneca Suzi.   Linda,  linda, linda!   Ela tinha os cabelos longos,  Um vestido rosa com a parte da saia em sianinha branca, um cinto de fivela grande super fashion.
Achei esta Suzi na Internet,  não faz jus à beleza da verdadeira, porém o vestido da foto embora seja verde é igualzinho ao da Suzi da Dri
 Jack tinha uma boneca bebê que tinha uma toca branca em plástico rigido. O que era legal nessa boneca é que podíamos virar o rosto dela para dentro da toca então a parte que vinha para frente tinha  outra expressão, podia ser de riso ou choro. Essa boneca era disputada.

Procurei na Internet e descobri que o nome dela é Fiteira:

No tempo em que eu ainda não era nascida as meninas ganharam umas bonecas conhecidas como Dorminhoca, eram umas bonecas para se colocar de enfeite sobre as camas,  era uma rosa de Adriana e uma azul de Jacqueline, tenho lembrança dessas bonecas,  porém não sei por que essas bonecas sumiram do cenário  lá de casa.

 Assim  também foram com as Bijus  eram umas bonequinhas lindas , pequenas como um bebezinho, desapareceram... para onde foram?  Acreditávamos piamente que estavam  todas escondidas no alto do guarda-roupas. Vivíamos a desenvolver planos para alcançar o alto e enfim  resgatar as bonecas. Outra teoria era que vovó Cati havia escondido. Ela tinha o costume de guardar tudo para conservar. Então quando íamos na  casa dela vivíamos a espionar dentro dos seus guardados, mas nada das bonecas. Nunca as encontramos  de novo. Ficaram na memória apenas.
Adriana sempre foi  muito cuidadosa com os seus brinquedos, ela teve a boneca Lalá e lulú e o boneco Manequinho que faz pipi. Chegamos até a fazer um  aniversário para ele com bolo e tudo. Esse boneco existe até hoje na casa de mamãe. Eu nunca tive um manequinho,  mas em compensação eu tive um  Jupidélio.
Manequinho e Lalá e Lulú abaixo


Pois então,  esse boneco Jupidélio era um boneco muito parecido com o manequinho. Ele pertenceu a minha prima Idris, que moravam lá em Vila Velha e toda vez que eu ia pra lá o Jupidélio era meu. O  meu sonho era trazer o Jupidélio para Linhares mas, ele ficou por lá mesmo. Tia Iracilda se deleitava  me contando a estória do nome dele. Quando a Idris o ganhou de Natal ficou muito orgulhosa de seu presente, parecia um bebê de verdade, ela o apresentava às amigas como Paulo, e titia ficava só espreitando a conversa, muito crítica que era, ela saia com a piada, e dizia:

-  Que Paulo, que nada! O nome dele é Jupidélio!

E assim foi contra o gosto da pobre Idris que ele foi batizado.

Voltando pra Linhares, a tia Dalila tinha um quebra-cabeça
 que também só brincávamos quando estávamos com ela. Era uns cubos grandes, que quando juntos formavam uma figura, cada lado do cubo formava figuras diferentes.
Mais tarde tive um brinquedo que eu amava, e minhas colegas de colégio iam muito lá em casa para brincar ou eu levava para a casa delas também.  Foi um brinquedo que meus pais me deram uma vez que fui a Colatina com eles. Eu devia ter uns 8 anos. Eram umas forminhas de rostos para fazer esculturas de gesso e depois pintar. Misturava-se o gesso na água,  colocava-se nas forminhas,  esperava-se secar, essa era a parte mais difícil ninguém queria espera secar... E depois pintar os rostos. Quando ficavam prontos eram lindos rostinhos, tinha um que me lembro bem era o favorito de todos, era o rosto de uma japonesinha.
Lá na Estrelinha vendia-se uma bonequinha em miniatura que fazia sucesso. Era uma bonequinha bem miúda que tinha os braços,  pernas e cabeça  móveis.  Era vendida sem roupa. A gente que pegava uns pedacinhos de pano para fazer roupas para as bonequinhas.



Essas são minhas lembranças dos nossos brinquedos com as meninas, pelo menos os mais marcantes. Quanta Saudade! 
*Todas as fotos mostradas são de busca na Internet.  A única coisa que tenho desses brinquedos é a lembrança. 

sábado, 19 de março de 2016

Os Novos Moradores

Eles chegaram, os novos moradores que habitariam no apartamento deixado vago pelos meus avós. Era uma família numerosa. Os pais eram Dona Nega e Seu Natinho.  Tinham 5 filhas todas moças, com mais de 15 anos, com exceção da mais nova que era da idade do Fabinho , portanto, pelo menos 5 anos mais nova que eu. Os filhos, creio que eram 4 todos rapazes, talvez 5, todos rapazes também.
Eram pessoas simples provenientes de Bom Jesus do Norte, eram pessoas bastante amigas. Moraram no nosso prédio por muitos anos.
 As jovens filhas variavam entre adolescentes e começo da fase adulta, então música era uma coisa que não podia faltar. Nós tinhamos um estilo mais urbano enquanto eles tinham um estilo country, gostavam de cavalgadas, passarinhos, chapéu de cowboy. O gosto musical deles era mais do estilo popular/country diferente do tipo de música que escutávamos lá em casa. Todos os grandes hits da época eles tinham:  Perla, Jane e Herondy, Odair José, Joelma,Antônio Marcos , Carmen Silva,Diana e todos os outros que eram tantos que nem tenho como lembrar. Elas gostavam muito de revistas também: Contigo, Amiga, Sétimo Céu, Carícia, Grande Hotel e etc... Mas o que tinha nestas revistas que elas gostavam tanto? Duas respostas:

primeira: as fotonovelas;

segunda: os posters.

Tenho que confessar que eles tiveram grande influência no meu gosto musical que é bastante eclético até hoje e as fotonovelas eu adorava, quem me conhece sabe que eu lia tudo que passasse na minha frente. Mas, os posters...Ah os posters...!
Nunca consegui entender. Tudo bem que os artistas eram bonitos, mas não precisava exagerar. Elas eram loucas pelos posters dos artistas. Elas compravam todas as revistas que saiam na banca, não perdiam nem um número. Mas o que elas faziam com os posters?

 Iam para a parede.

 As quatro paredes do quarto eram cobertas pelos posters dos artistas mais bonitos e famosos da década de 70:
 Ronnie Von, Pedrinho Aguinaqua, Tony Ramos, Tarcísio Meira,Francisco Cuoco, Carlos Zara,Odair José , John Herbert e etc...
Eram loucas por novelas, mas isso todo mundo era. Nesse tempo a televisão não era à cores então eles tinham uma telinha colorida como um arco-íris na frente da televisão. Era o máximo, a gente ia correndo para lá assistir as novelas "coloridas", isso ainda no tempo da Rede Tupi: Mulheres de Areia, com Eva Wilma e Carlos Zara, Anjo Mau com Suzana Vieira e José Wilker,Vitória Bonelli, Meu Rico Português, A Barba Azul com Eva Wilma.
Os passarinhos.  Ah os passarinhos! Adoravam os passarinhos! Tinham tantas gaiolas...era a vitrola tocando  de um lado e os passarinhos gorjeando do outro.
A filha mais velha do casal, casou-se. Me lembro dela, uma morena muito bonita vestida de noiva se escondendo para o noivo não ver, para não dar azar. Seu vestido branco era muito bonito, colado ao torso e a partir do joelho ia se abrindo como uma sereia e um chapéu muito elegante, moda na época.
Um dos rapazes quando se casou o seu primeiro filho se chamou Adriano em homenagem a minha irmã Adriana. Ela era muito querida por todos os membros da família.
E assim se passaram muitos anos dessa alegre família que morou no nosso prédio na Av. Joao Felipe  Calmon, 454 e nos trouxe tanta alegria, com suas músicas, revistas, fotonovelas e novelas coloridas como o arco-íris... E como todos os outros moradores o dia de ir embora chegou, mas, deixaram sua marca registrada na memória de quem viveu estes anos inesquecíveis do nosso prédio. Depois que eles se foram os apartamentos não foram mais alugados, após tantos anos de aluguéis e pouca manutenção os apartamento do segundo andar ficaram inabitáveis.
 Ficamos morando sem vizinhos até 1981, quando papai reformou o pequeno apartamento dos meus avós e alugou para o filho do Seu Guimarães recém-casado.  Ficaram pouco tempo pois eles mudaram-se para o Pará. Não demoraria muito chegaria a nossa vez em 1982.  Mas essa é outra estória a contar no Recordar é viver...

Enquanto isso divirta-se com os grandes sucessos de Joelma e Perla:








quarta-feira, 9 de março de 2016

Avenida João Felipe Calmon, 454

Este era o nosso endereço  em Linhares,  o nosso e o de muitos que moraram no nosso prédio ao longo dos anos. Os nossos vizinhos foram inesquecíveis pois cada um  que por alí passou trouxe algo consigo  e quando cada um se  foi  deixou algum fato que de alguma forma marcou nossas vidas. Vou tentar enumerar aqui alguns moradores talvez algum me escape.
A primeira de todas e a mais querida que tornou-se  membro da família  tia Dalila, pessoa maravilhosa que já tive oportunidade de descrever aqui no Blog anteriormente. Depois que ela se mudou o seu quarto foi alugado para uma juiz, um  Senhor muito gentil, lembro muito bem dele, mas não lembro o seu nome. Num dos apartamentos  no segundo do andar morou um casal Maria José  e Fabiano,  ela era professora e dava aulas particulares para as minhas irmãs. Tia Marly e Tio Marísio também moraram neste apartamento com Masterson ainda pequenininho foram contemporâneos da Tia Dalila. Mais tarde no apartamento ao lado moraram outro casal, Seu Souza e Dona Cleusa, ele era bancário e tinham dois filhos muito bonitinhos, Cláudio e Flávia eles eram menores que eu, mas não brincávamos muito pois Dona Cleusa era muito severa e não deixava eles saírem. Todo mundo dizia que o Cláudio era meu namorado, e eu detestava essa brincadeira. Quando o Cláudio foi estudar no Castelo Branco o Seu Souza nos levava pra escola no seu fusquinha. Um belo dia o seu Souza ganhou na loteria, então compraram uma casa e se foram como tantos outros moradores do prédio.  As vezes o prédio ficava vazio, só nos morávamos lá, desse modo juntávamos a turma de primas e íamos brincar de pique-esconde nos apartamentos. Mamãe se via doida  com aquela algazarra de criança correndo e gritando:

-  1,2,3, bóia....1,2,3, bóia

Quando ela não aguentava mais  botava um fim na brincadeira.
Quando a Casa Lopes fechou e a loja ficou vazia, um certo inquilino amicíssimo de papai,  Seu Brandão , pediu por ocasiāo de sua mudança, ele morava no segundo andar, para armazenar na loja, então vazia, o guarda-roupa que era  muito grande e não coube no transporte, ele mandaria buscar depois. Até hoje eu  não entendo como esse guarda-roupas ficou guardado montado.  O tal caminhão que vinha buscar demorou muito tempo, então nós crianças criativas que éramos, inventamos uma brincadeira. Mais uma vez juntávamos as primadas  e íamos brincar de casinha, dentro do guarda-roupas  cada porta era uma casa, a parte da calceira eram dois apartamentos menores, escrevendo estas linhas sou capaz de ouvir o eco do abre e fecha das portas dentro daquela loja enorme e vazia. Um dia, esse guarda-roupas caiu e foi um  deus-nos-acuda com criança presa dentro.  Acho que nosso anjo da guarda era muito forte pois ninguém se machucou, mas, o guarda-roupas,  esse coitado ficou todo empenado e depenado. Não sei como papai saiu dessa saia justa quando seu Brandão  finalmente veio buscar o guarda-roupas. 
A loja vazia não demorou muito foi alugada para o depósito de trigo do Grupo Buaiz. Foram muitos anos de poeira branca de trigo sobre os móveis. 
Os meus avós mudaram para seu novo apartamento  na rua Monsenhor Pedrinha aproximadamente em 1971 ,e logo o apartamento vazio foi alugado para uma família que morou no prédio por  muitos anos. Mas, esta família merece um capítulo especial , que estarei contando em breve no Recordar é Viver.
Assim  era a dinâmica do nosso prédio,  sempre tinha alguém chegando ou saindo. Assim eram nosso vizinhos quando chegavam aos poucos iam se instalando e fazendo parte na nossa vida, e quando iam sempre deixavam um vazio que era preenchido pelas boas lembranças e saudades no imaginário  de quem ficava no inesquecível  e velho endereço Av. João Felipe Calmon, 454.



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Nem tudo são flores!

Um dia acordamos com uma novidade. Ladrões haviam entrado na Casa Lopes. O muro do fundo do prédio tinha sido arrebentado, arrombaram a porta dos fundos da loja  e os malfeitores entraram para roubar. Fizeram uma limpa. Não conseguiram levar tudo, então, o que não puderam levar, destruiram. Eu ainda era muito pequena mas me lembro do rosto desolado de minha avó, mostrando com indignidade as calças cortadas ao meio. Não eram apenas ladrões em busca do lucro em cima do esforço alheio, mas, eram pessoas que além de roubar queriam deixar um rastro de destruição. Isso não impediu meus avós nem meus pais de continuarem a vida e trabalharem para conseguirem seus objetivos. Na mesma semana meu pai contratou  um pedreiro para consertar o muro arrebentado e aumentou a altura do muro.
Era comum pessoas virem à loja mau intencionadas. Minha irmã conta que presenciou uma cena de uma Senhora com suas filhas que veio a loja e ia saindo com o retalho enfiado na bolsa quando foi abordada por vovó para pagar ou devolver o tecido.
Os anos foram passando e os interesses foram mudando, meu avô trabalhava muito na roça e ficava pouco na loja. Quem ficava na loja era minha avó Clothildes pois  meus pais haviam comprado um terreno na rua Monsenhor Pedrinha aonde abriram o Supermercado Santa Mônica. Então finalmente decidiram fechar a loja. O fechamento da Casa Lopes foi o fim de uma era para a nossa familia.
Seu Joaquim Lopes saiu definitivamente dos negócios deixando por conta de papai, ele continuou responsável ainda pela roça, e isso ele fazia muito bem.
Linhares estava mudando mais uma vez. O comércio  estava se expandindo de novo agora apontava para a rua Monsenhor Pedrinha em direção a Br 101.
Quando a Casa Lopes fechou , ficou um grande vazio no térreo do nosso prédio. Mas, as mudanças não pararam por aí, meus avós  também mudaram para o novo apartamento na rua Monsenhor Pedrinha, em 1971. Então nosso prédio ficou vazio de vez. Aos poucos tudo mudava, primeiro foi a tia Dalila, depois a loja, depois nossos avós. Era tão bom tê-los por perto! Aos poucos nosso prédio foi ficando vazio. Aquela rua que era a principal de Linhares, com seus lindos canteiros e arborizada, a rua comercial tão movimentada não tinha mais o dinamismo de outrora. O prédio continuava lá, mas faltava a alegria que um dia esteve por ali, e que o tempo levou com sua arte de transformar as coisas. Ficamos nós seis. Mas, não ficamos sozinhos por muito tempo...


O vexame
Cena presenciada por minha irmã Jacqueline na infância, quando ela me contou há alguns anos esta passagem fiz este desenho em crayon para ilustrar a cena.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Era Muito Bom Quando Eles Moravam ao Lado!

Era tão bom tê-los por perto. Sempre prontos a nos ajudar, pegar no colo, falar com carinho ou chamar a atenção, mas com o objetivo de educar e com muita ternura sempre ensinavam alguma coisa.  Estou falando dos meus avós paternos. Eles moravam no apartamento ao lado.
Tem algumas coisas que ficaram impregnadas na memória, me lembro até hoje do meu vô Joaquim me ensinando a tomar sopa. Ele ensinava que quando a sopa estava muito quente eu tinha que pegar a sopa da borda do prato, em pequenas quantidades. Faço isso até hoje e penso nele. Outra que é certa, quando o café com leite estava muito quente ele pegava outra caneca e transferia o café  com leite de uma caneca a outra para esfriar, como faz para saber se já está esfriando? Quando começa a espumar. Talvez sejam coisas óbvias  e tão simples mas lembro dele ensinando esses pequenos segredos de sobrevivência para a netas.
Era muito bom quando faltava luz, vovó Cati ia logo pegar uma vela para acender e esse momento era mágico. Aquela sensação de medo pelo escuro e a luz da vela que chegava clareando.
E quando tinha alguma tempestade, com raios e relâmpagos ela nos proibia terminantemente de pegar qualquer objeto metálico, com medo de sermos atingidos por um raio.
Quando chegava a noitinha, depois da janta, a vovó Cati, saia com a gente para dar uma volta na rua. Ela ia dando seus passos lentos e distraídos, olhando as vitrines. Iamos correndo na frente, eu minhas irmãs, para pular marelinha macaca em frente a Sapataria Mister, mais a frente ela encontrava a sua amiga Dona Jacira, que era a esposa do Seu Benvindo do Bar Sport, alí elas conversavam distraidamente e depois voltávamos para casa.  As vezes ela nos levava na Sorveteria Xodó para tomar sorvete, aonde o nosso preferido era o sorvete de flocos.
Bons tempos. Só guardo boas lembranças e muita saudade.