domingo, 31 de janeiro de 2016

A Pracinha dos Bichos

Desde pequeninha eu tive atração pela Pracinha dos Bichos. Com a idade de 2 anos, quando ainda mal falava, fugi de casa em direção a pracinha. Foi meu tio Mauricinho que me encontrou por acaso, ele ia passando com seu Jeep quando  viu algumas pessoas perguntando a uma criança quem ela era e tudo que ela falava era "pipi", em referência aos pássaros da pracinha, ele parou para ver o que estava acontecendo. Quando me viu, deu aquela gargalhada , me pegou no colo e levou para casa.
A pracinha dos bichos era o nosso paraíso.  Bastante arborizada e jardins sempre cuidados, tinha uma quadra e dividia o espaço com o Jardim de Infância Menino Jesus.  A principal atração era  um mini zoológico com exemplares da Mata Atlântica: jacaré, macaco, cobra, capivara, preá,tucano, papagaio, arara e outras aves. Mas tinha também a parte dos brinquedos com balanços, gaiola, trapézio, gangorra que fazia a alegria geral da petizada. Quando a gente queria balançar e todos os balanços estavam ocupados, a gente se encostava no suporte do balanço e esperava a vez.
O grande medo da minha mãe, lá na pracinha, era o lago.  Ela tinha medo de afogamento.  Lá tinha um lago, com muitos peixes, que circundava uma pequena ilha a qual se tinha acesso por duas pequenas pontes. Com muito custo , depois de pedirmos muito  ela finalmente permitia que fossemos brincar na pracinha, com a promessa de não ir próximo ao lago. Foi numa dessas idas que surgiu uma brincadeira "deixa eu te segurar senão você cai".  A brincadeira era que alguém se aproximava de você, quando estivesse perto do lago, então abruptamente empurrava e segurava dizendo " deixa eu te segurar senão você cai". Foi numa dessas que Alvina, minha prima, fez isso comigo,  e eu no ímpeto da reação realmente a derrubei dentro do lago. Foi aquele Deus nos acuda  para tirar ela lá de dentro, e todo mundo ficou espantado com o meu feito pois, eu era a menor da turma e Alvina já era bem grande e esperta. Mas, com isso descobrimos que o lago não era tão fundo quanto mamãe pensava.

Nesta foto pode-se ver o lago e com  bastante cuidado vê-se as pontes.
Foto extraída do Memorex Linhares

Ao longo dos anos a nossa pracinha foi sendo abandonada os prefeitos ja não cuidavam mais da pracinha, até que um dia um prefeito teve a "brilhante" idéia de murar a nossa Pracinha, foi a cartada final para a sua decadência. Foi demolido também o Jardim de Infância e no seu lugar construídos módulos, nada bucólicos que depois de anos abandonados e sem função serviram para abrigar o fórum de Linhares. Hoje pelo menos esta renovada e remodelada, numa tentativa de busca do passado perdido e seu nome é "Praca 22 de Agosto".
Mas eu sei dentro do meu coração, que, aquela pracinha não existe mais no mundo real. Ela só existe no imaginário de quem viveu em Linhares nas décadas de 60 e 70 e reconhece nestas linhas a "Pracinha dos Bichos" da qual eu estou falando.
Nossa história começa aqui!

domingo, 24 de janeiro de 2016

A Vitrola

Nos idos anos 60 os móveis eram bastante engenhosos. Lá em casa tinha um desses móveis, de certa forma até grande, parecia uma cômoda no tamanho.  Então abria-se uma porta de um lado ficava o rádio e do outro puxava-se uma gaveta aonde colocávamos o disco para tocar, o nome dessa engenhoca era Vitrola ou Eletrola.


Esta é uma vitrola, porém não é igual ao modelo que tínhamos.  Só para dar uma idéia

Era essa vitrola que trazia alegria lá para casa pois alí escutávamos músicas e  estorinhas.
Papai adorava música, ele tinha uma coleção que foi juntando ao longo da sua juventude então nós tinhamos uma seleção variada desde os anos 50 aos 70.  Os grandes sucessos da época,  os que eu cito aqui não chegam nem aos pés do que realmente a gente tinha guardado lá em casa:  Bill Halley e seus Cometas,   Iê iê iê, A Jovem Guarda, Beatles, Elvis,Tim Maia, a Banda do Canecão e muitos outros. Adorávamos e ouvíamos de tudo. Mas como criança o que nos atraia a atenção eram os discos infantis, um dos nosso favoritos era o Topo Gigio com suas canções: Meu limão meu limoeiro, Cai cai balao , Chove chuva e outras. Os discos de estórias da Coleção Disquinho faziam muito sucesso lá em casa também. Esta coleção disquinho eram pequenos discos coloridos que contavam as estorinhas favoritas da criançada poderiam ser cantadas ou apenas contadas mas sempre tinha uma música tema, nós tínhamos: O macaco e velha , favorito da minha irmã Jacqueline, A festa no céu,  que eu adorava, a Estória da Baratinha, era a favorita da minha mãe para nos contar na hora de dormir. Mas, lá na casa das minhas primas tinham muitos outros : Úrsula e o vento, A formiguinha e a neve, A formiga e a cigarra, Chapeuzinho vermelho, Branca de neve, O patinho feio, A menina dos fósforos. Eu adorava quando ia para Vila Velha pois meu primo Johnson tinha outras estórias , Alice no país das maravilhas, A moura torta e outras. Passávamos o nosso tempo ouvindo as estorinhas olhando para a capa, trabalhando a nossa imaginação. Era muito divertido.
Coleção Disquinho e Disco do Topo Gigio faziam a alegria  do nosso mundo infantil 

Entre os discos de papai tinha uma música também que fazia sucesso lá em casa , o nome da música era Moço, cantada por Marisinha.
Alguns anos se passaram e a vitrola se  quebrou.  Sem conserto e já fora de moda foi relegada a um canto da casa como um móvel sem utilidade. Como não vivíamos sem música papai logo providenciou um novo aparelho de som para trazer  a alegria  da música de novo, era um toca-discos e um toca-fitas.

Ouça aqui a canção Moço,  por Marisinha

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O terceiro verão na Barra

Este é o ultimo verão que tem sequência, 1974. Pois, depois deste foram tantos que eu perdi o fio da meada. Mas, aí vai mais estórias dos verões barrenses.
Desta vez meus pais alugaram uma casa que ficava mais distante da praia. Não sei se hoje seria capaz de encontrar a casa. A dona da casa ficou estabelecida numa casinha menor no fundo do quintal.
Quando chegamos ficamos bastante contentes pois a casa tinha um quintal com um pé de cajá que estava apinhado. Acostumadas a subir em árvores que éramos, logo pegamos intimidade com o cajazeiro. Mas a dona da casa não ficou nada satisfeita de nos ver desfrutando dos cajás.
 Um belo dia quando chegamos da praia encontramos o cajazeiro ao chão. Ela mandou cortar tudo. Não sobrou nada, nem um galho do cajazeiro pra contar a estória.
Mas isso não nos impediu de subir em árvores nem de comer frutas. Havia uma chácara em frente e que tinha tudo quanto era fruta: goiaba, manga, côco, caju e muitas outras. Logo fizemos amizade com outras crianças e os donos da chácara não se importavam da criançada no pomar.
Papai e mamãe eram bastante animados e gostavam de pescaria. Então íamos munidos de puçá e samburá para o pontilhão, nesse tempo nao havia cabana no pontilhão, era lá que íamos para pegar sirí ou íamos pescar na Bugia, lugar que hoje não existe mais, pois foi engolido pelas águas.
Num fim de semana quando as primas vieram estávamos perambulando pela cidade quando passaram de Jeep Júlio e Tamara e nos levaram para uma volta na praia. A maré estava bem baixa , aquela praia grande, subimos todas no Jeep e Júlio ia dirigindo fazendo vai-e-vem , dando voltas, aquela brisa boa de verão batendo, cabelos ao vento, muitos risos e gargalhadas. Quando ele seguiu para sair da praia e pegar a rua estavam dois policiais a espera. Pediram os documentos e como estava tudo certo disse que seria obrigado a multar por excesso de passageiros.
Foi neste ano também, que por ocasiao do meu aniversário as meninas fizeram um bolo para mim. Convidaram a criançada  da vizinhança, eu estava muito feliz até quando cantaram o parabéns.  Mas, quando cortaram o bolo não deram o primeiro pedaço para mim, tinha uma convidada japonesinha, muito bonitinha deram o bolo para ela. A festa para mim acabou alí.
A Barra era uma delícia, eu adorava as tardes de marés baixas. Às vezes Idalécia levava a gente para a praia no fim da tarde, depois mamãe ia se encontrar com a gente de bicicleta. Catávamos estrelas do mar e  tatuzinho, fazíamos muitos castelos de areia nas poças de água morna e depois de muito se divertir era muito bom voltar para casa na garupa da bicicleta sentindo no rosto a brisa cálida que vinha do mar.
Assim eram os nossos verões da Barra, assim era a nossa doce infância.

"...eu adorava as tardes de marés baixas." 

domingo, 17 de janeiro de 2016

O Segundo Verão na Barra

O nosso segundo verão na Barra, foi em 1973.  Meus pais acharam, desta vez, uma casa para alugar que ficava mais perto da praia. A proprietária da casa se chamava Dona Bezerra, a casa  ficava em frente ao Hotel cricaré.
Mesmo esquema de sempre, nos fins de semana vinham os irmãos de mamãe com as primadas, as vezes alguma prima ficava para passar a semana com a gente.
O Hotel Cricaré era cercado por um muro bem baixinho, aonde a gente adorava passar o tempo embaixo das castanheiras frondosas embaixo era cheio de mesas e cadeiras de madeira pintadas de azul-marinho.  Mamãe sempre voltava da praia com a gente antes do meio-dia, a gente almoçava e depois ia brincar lá fora.  Ela nos dava ordens expressas de não sair sozinhas de casa e especialmente nunca ir ao mar.
O quintal da casa era de areia, ali eu passava horas construindo castelos de areia. Mas, a areia era preta e eu queria areia mais clara, então eu pedia a alguém responsável para me levar na praia para buscar areia, mas ninguém tinha tempo para uma garotinha. Então falavam,  mais tarde, ou, daqui a pouco. Foi quando eu  me decidi e e fui buscar a areia sozinha. Me lembro que fui com meu baldinho vermelho, atravessei a rua passando ao lado do cemitério abandonado,cheguei na praia , peguei minha areia, mas não cheguei perto da água. Missão cumprida voltei correndo para casa, sã e salva.
Mamãe preparava sempre uma Sarda ao Forno que era uma delícia, só de contar posso sentir o sabor, foi nesse ano que meu irmão engoliu uma espinha de peixe. Foi aquele alvoroço enfim levaram para o hospital e como sempre tudo terminou bem.
Neste ano fomos passear em Itaúnas pela primeira vez. Era um paraíso perdido, uma pequena vila de pescadores que havia sido soterrada pelas areias.Para chegar às dunas atravessava-se de canoa num rio de coca-cola.  Andávamos pela vila soterrada, mas ainda víamos partes das paredes e portas das casas . Era possível , nesse tempo ainda ver o cemitério e uma pequena rua , talvez a última com algumas casas abandonadas que ainda  tentavam resistir à invasao das areias sem sucesso.  Ficava imaginando, se a gente cavasse será que encontrariamos algum tesouro escondido? Na volta nadávamos no rio de coca-cola antes de ir embora já vencidos pelo cansaço e olhos cheios de areia, que me renderam uma visita ao hospital pois não conseguia dormir e chorava de dor nos olhos.
Foi também, neste passeio,  que na volta, descobrimos que havíamos sido roubados. A empregada que tinha ficado lá em casa aproveitou nossa ausência para fazer uma limpeza.  Enfiou o que pode na bolsa e se mandou para a rodoviária. Papai foi muito rápido pois conseguiu chegar com a policia antes do ônibus partir e recuperar os pertences subtraídos.
Depois de susto passado, pertences recuperados e olhos cheios de areia sarados, só nos restava curtir mais um verão delicioso na nossa querida Conceição da Barra de águas mornas, pocinhas na praia, sombra das árvores frondosas do Hotel Cricaré, castelo de areia preta no quintal, passeios na pracinha e não colocar o pé no banco por que o vigia já vem vindo mandar tirar.

"Ela nos dava ordens expressas de não sair sozinhas de casa
 e especialmente nunca ir ao mar."

sábado, 16 de janeiro de 2016

A Quase Tragédia Que Virou Comédia

Continuação:

Após o almoço de domingo  o pessoal foi tirar um cochilo no quarto estavam todos deitados em colchões espalhados no chão, estavam lá papai, mamãe , tia Iracema e tio Heliomar, janela aberta e a brisa entrando para refrescar aquele tarde quente de verão, estavam tranquilos batendo papo enquanto o sono não chegava. Vovó Aracy passou pela porta do quarto viu todos deitados muito confortáveis e disse naquele famoso tom jocoso:

-  Já vi que não tem lugar pra mim mesmo neste quarto. Vou ter que deitar é no sofá.

Pegou seu leque e foi se abanando deitar no sofá.
Foi então que tio Heliomar respondeu:

-  Dona Aracy, você sabe que a Senhora  é minha sogra querida. Vem aqui.... Tem um colchão sobrando para a senhora. Vem logo que aqui está batendo uma fresca deliciosa.

Vovó não pensou duas vezes, levantou-se rapidamente e foi bem depressa tomar posse do espaço,  com seu leque.  No que ela se acomodou... num súbito... sem que ninguém tivesse tempo de entender o que estava acontecendo... o assoalho do quarto caiu por inteiro mas apenas de um lado ficando suspenso pelo lado da porta. Fez aquele barulhão. A criançada correu para ver o que estava acontecendo.
 Todos foram escorregando no assoalho e caíram no fundo de um porão empoeirado. Foi um grande susto, adrenalina a mil.  Foi quando de repente  uma pessoa gritou:

-  COBRA!

Aí foi um reboliço, começou o "salve-se quem puder".  Os cinco tentando escalar o assoalho.  Mamãe com o barrigão tentando sair desesperadamente, papai tentando ajudar mamãe. Vovó caiu mas o leque ficou intacto na mão, gritava por socorro. Tio Heliomar estava em pânico e tia Iracema gritava:

-  Cobra! Cobra!

Finalmente todos conseguiram sair do porão sem se machucar.  Mas e a cobra?
A cobra não foi nada mais nada menos do que a imaginação,  fruto do desespero.
Assim ficou marcada a nossa primeira temporada em Conceição da Barra.  A primeira do resto de nossas vidas! 
"a tarde eu e minhas irmãs íamos brincar no calçadão  da igreja"
 foto: www.ondehospedar.com.br

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Primeiro Verão em Conceição da Barra

O nosso primeiro verão em Conceição da Barra foi em 1972.
Papai alugou uma casa no centro , era uma casa branca com detalhes em azul claro, atrás da igreja matriz.  Era uma casa antiga , estilo casarão. Subia-se uma escada para chegar à varanda que era comprida e estreita. Não era muito distante da praia uma pequena caminhada passando em frente ao Hotel Cricaré e a praia estava ali diante dos nossos olhos.  Este foi o primeiro ano do resto de nossas vidas que passamos verão na Barra.
Praia de águas mornas, aonde a criançada curtia muito nas marés baixas as famosas "pocinhas" , que eram nada mais que piscinas naturais formadas na baixa da maré.
Haviam umas que eram verdadeiras piscinas bem fundas. Mamãe ficava muito alerta pois essas inocentes poças na maré alta, criavam correntezas e se transformavam nos conhecidos "buracos" muito perigosos havendo risco de afogamento.
Íamos para a praia levando esteiras, naquele tempo não tinha o conforto das cadeiras de alumínio. Caminhávamos levando, sombrinha, chapéu, bronzeador "Tan-o-Ton". Estava super na moda naquele ano um adesivo que a gente colocava no braço e depois quando tirava o adesivo fica uma tatuagem natural na pele. Mamãe estava grávida do meu irmão e naquele tempo as mulheres grávidas usavam um biquini com uma cortina , para não mostrar a barriga.
A Barra era uma cidadezinha bem tranquila, muito diferente dessa dos dias de hoje. A tarde eu e minhas irmãs íamos brincar no calçadão da igreja ou andar a toa na pracinha que era rodeada de casinhas antigas todas coladas umas nas outras e aonde tinha um vigia que proibia de colocar os pés nos bancos, ele ficava de olho, botava-se o pé e lá vinha o vigia. Engraçado é que ele não conseguia tomar conta da criançada mascando chiclete e jogando no chão pois a pracinha é carimbada de chiclete por toda a parte até hoje, olha esse chicletes sao antigos! Fazem parte da memória barrense.
Tudo que acontecia era novidade, um dia de manhã acordamos com a notícia que tinha uma preguiça pendurada na árvore da igreja então fomos correndo para ver a preguiça. Mas para que tanta pressa? Com certeza ela não ia sair correndo.
Sempre tinha um parque que se instalava na cidade, o meu brinquedo favorito era a barquinha quando balançávamos alto podíamos avistar longe.
Na frente da praia, aonde hoje é o Spaçus, havia um cemitério abandonado. Alguns restaurantes e bares de Linhares, na temporada, se transferiam para a Barra em cabanas, lembro muito bem da Churrascaria Rodeio que em Linhares era na rua da Conceição, mas na Barra era a Cabana Rodeio e ficava de frente para o mar ao lado do Dunas Clube e quase em frente ao cemitério abandonado.
Nos fins de semana  era reunião de família, os irmãos de mamãe vinham com seus filhos para curtir a praia.
Foi num destes fins de semana que aconteceu uma quase tragédia que no fim virou uma comédia...
A continuar...
"A  praia" por Mônica Louzada 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

As Filhas do Seu Guimarães

Eu e minhas irmãs brincávamos muito com elas, quando elas não estavam lá em casa, éramos nós que estávamos na casa delas. Algumas delas, mais velhas,  já começavam a fazer faculdade, as menores como a gente só queriam brincar.
Todo mundo de caneta e papel na mão brincávamos de escrever os nome de cidades, países, carros e profissões que começavam por uma certa letra. Assim passávamos o tempo. Lá no fundo do prédio deles tinha um tanque enorme, que na minha imaginação parecia mais uma piscina.
De vez em quando a irmã de Gueti mandava ela ir fazer compras lá no Gobbi, é claro que eu ia junto. Nunca esqueci umas balas de amendoim que compramos lá. Duras de roer, mas uma delícia!
 Nesse tempo já estudávamos no Castelo Branco, eu sempre via Margareth chegando com a Netinha da escola elas estudavam de manhã, então quando elas chegavam era eu que estava indo.
Nos fins de semana elas vinham lá em casa e a gente brincava no quintal, subia em árvore, fazia cozinhado, pulava corda, pulava elástico. Ah! brincar de elástico... era super na moda na época. E como era bom! Vai-e-Vem, também estava muito na moda era uma jeringonça difícil de explicar, vou ver se acho uma foto para postar.
Eis aqui o Vai-e-Vem foto vcbela.com

A gueti tinha um cachorro o nome dele era Dog. Eu morria de medo, mas ele era muito brincalhão, ficava pulando em cima de mim, e Gueti tentando botar ordem mandava Dog parar. 
Gueti e Netinha estavam sempre juntas.  A Netinha era uma crianca especial, a Gueti tomava conta dela muito bem, ela era muito afetiva e participativa, não ficava fora de nenhuma brincadeira. Sempre bem cuidada e bem penteada de maria-chiquinha.
Lá em casa tinha muitas festas de aniversário, principalmente os do meu irmão Fabinho. Elas eram sempre convidadas e fazíamos muitos concursos de dança. Ah tempo bom!
Quando papai comprou o bugue, eu e a Gueti tivemos um acidente.  Esse eu não lembrava, por isso não mencionei quando escrevi O Mini-Bugue, foi a Gueti que me refrescou a memória.Ela me contou que foi guiar o bugue, eu sentada ao lado, como ela nao sabia dirigir, perdeu a direção e bateu com o bugue contra uma caixa d'água. Ninguém se machucou e alguns pequenos estragos no bugue, nada grave pois, este ainda não foi o fim do bugue, andamos muito ainda depois desse pequeno acidente antes do seu fim definitivo.
Brincávamos de skate e patins na calçada do Banestes. Vinha criança de tudo quanto era lugar pois aquela calçada era boa para andar de patins.
Quando terminamos o primário a Gueti foi estudar no Afrânio Peixoto e eu fui para o Polivalente I. Mas foi bom pois a turma de colegas minhas também foi para o Afrânio então a Gueti passou a conhecer minhas colegas do primário. No fim todo mundo conhecia todo mundo. O pai da Gueti tinha um escritório embaixo do prédio, então a gente ia para lá tirar onda de importante telefonando para as amigas, Ivana era uma delas, para chamar para vir brincar com a gente. Não esqueço uma vez que eu e Gueti fomos pra casa da Ivana, ela tinha ganhado um disco do Bee Gees, ficávamos na sala escutando aquelas música e sonhando, sem se dar conta que estávamos ficando adolescentes.
Pessoas de bom coração, não esqueço uma vez que precisamos de socorro, pois Jack havia caído da cama a noite se machucando, papai estava viajando e mamãe havia sofrido um acidente e estava impossibilitada de dirigir, uma das irmãs de gueti foi que nos socorreu para levar  Jack para o hospital. Extremamente educada voltou a tarde para nos visitar e ver se estava tudo bem.
Como todos vizinhos que ao longo dos anos se foram embora por diversas razões,  chegou a vez da Família Guimarães ir embora de Linhares, em 1981. Deixaram muitas saudades. Foram-se embora para o Pará. Eu e a Gueti chegamos a trocar algumas cartas, mas o tempo passou e as correspondências foram rareando até perdermos contato totalmente. Hoje após 35 anos nos reencontramos pela internet. E como é bom recordar e viver esses momentos inesquecíveis da nossa infância! Adorei ter notícias de Gueti , minha querida amiga de infância.
Veja esse vídeo. Era assim que pulavamos o elástico:
 

A Família Guimarães


Mais ou menos em 1971, mudou-se uma família para o prédio em frente ao nosso prédio na Av. João Felipe Calmon, a Família Guimarães.
Minha irmã Jacqueline, diz que se lembra quando eles chegaram com a mudança. Eu não lembro pois ainda era muito pequena. Passado alguns dias uma das meninas veio comprar gás de cozinha na nossa loja, minha irmã muito curiosa logo perguntou o seu nome que era Terezinha, a partir daí fomos logo conhecendo todos eles.
Era uma família muito numerosa, sete meninas e cinco meninos. Nunca consegui gravar o nome de todos pois eram muitos com idades muito variadas, haviam duas meninas da minha faixa etária e para mim todos os outros já eram grandes.
Nós íamos muito brincar com os novos vizinhos, pessoas muito educadas.  A casa sempre muito arrumada, móveis sempre brilhando e chão bem encerado.
As meninas com quem eu brincava se chamavam Margareth(Gueti) e Glaucinete (Netinha).
O prédio da Família Guimaraes em Linhares na Av. João Felipe Calmon ficava em frente à Casa Lopes.
Fonte:Facebook Memorex Linhares

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Café de Augusta

"Senta um pouco comadre, já vou te preparar um café"
Foto:vejamairi.blogspot.ca


Este é um "causo" que remonta lá pelo início da década de 1950.
A vovó Aracy tinha uns parentes que moravam lá no Pontal da Inveja, Dona Martilina e Seu João Vicente.Este era um sítio que mais tarde veio a pertencer ao meu avô paterno, mas nesse tempo dos idos 50 era propriedade desse casal que lá vivia com seus filhos.
Naquele tempo o transporte mais certo eram as próprias pernas, não tinha carroça , nem ônibus, contava-se consigo mesmo para ir e vir. Esta propriedade ficava às margens do Rio Doce e para chegar lá atravessava-se o Rio Pequeno e pegava-se a estrada como quem vai para Rio Bananal cerca de uma hora de caminhada.
Dona Aracy ia para passar uns dias no sítio acompanhada de seus filhos Naiah e Márcio. Sem conversar muito para manter o ritmo da caminhada a Naiazinha e o pequeno Márcio iam correndo na frente. Depois de muito cansaço, poeira e muita sede avistavam lá de longe a casa da comadre Augusta que ficava pouco antes do destino.
Quando finalmente chegaram a comadre Augusta estava na porta da casa e logo os saudava com alegria:

-  Bom dia comadre. Que satisfação!

-  Bom dia Augusta. Estou exausta. Tivemos que subir essa ladeira toda, com esse poeirão bravo. Temos que andar depressa.  Quero chegar cedo.

-Se preocupa não comadre, ainda está cedo.  Vamos entrando, senta um pouco tome um gole d'água e já vou te preparar um café.

Após  oferecer o café ela sumiu lá prá dentro a Dona Aracy sentou-se, deu água às crianças e ficou a espera do café.
E o tempo passou, passou e passou. A comadre Augusta apareceu mas nada do café. Então a Augusta sumiu de novo, aí a Dona Aracy pensou:

-  "Acho que ela foi buscar o café."

Como o café não aparecia Dona Aracy falou:

-  Ah! Augusta, esse café não sai.  Não posso mais esperar.

Augusta então dizia:

-  Espera mais um pouquinho, vamos conversar. O café já vai sair num instante

-  A comadre me desculpe mas não posso esperar mais não. Disse Dona Aracy

 E foi-se embora com as crianças.  No caminho ia pensando:

-  "Que diacho é esse tal de café de Augusta que não fica pronto."

Continuando a caminhada pela picada, encontraram o filho da comadre Augusta que vinha correndo com um pacotinho de café na mão.  Acredita-se que ele ia buscar o café la na casa da Dona Martilina que era para onde eles estavam indo.
Esta estória foi tão contada e recontada na nossa família que toda vez que alguém vai fazer um café e que demora muito a gente fala que está fazendoo o "café de Augusta."





quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Dona Aracy em Bariloche



"Como esse povo argentino é educado!"
 Foto: Breakawaytravellers.com 

A vovó gostava muito de viajar, acho que puxei a ela. Foi então que em 1978, a sua filha Iracema comprou um pacote de viagem para a Argentina. Iam os três, o tio Heliomar , a titia e a Raquel e resolveram fazer esse agrado a Dona Aracy. Ela foi também. A viagem era de ônibus. Saindo de Vitória , cerca de 20 dias de viagem, visitando  todo o sul do Brasil destino final Bariloche, Argentina. E lá foi ela de leque em punho.
A grande estória dessa viagem aconteceu exatamente em Bariloche.
Ela estava muita satisfeita conhecendo um país diferente do Brasil. Foi quando resolveram fazer um passeio numa das montanhas. As pessoas subiam nas cadeiras teleféricas uma a uma. Segundo o seu relato todo mundo foi sentando e subindo e ela acabou ficando por último.

-  Foi todo mundo sentando, passando na frente. Eu fiquei pra trás. A última a subir. Ninguém cedeu a vez pra mim uma pobre senhora... Mas deixa pra lá. Deeeeeixa...

Finalmente então chegou a sua vez, ela sentou e, não sei por qual razão a barra de segurança não foi colocada. Aquela cadeira foi subindo, subindo e subindo... Foi quando ela percebeu aquele monte de gente acenando para ela. Então ela pensou:

-  Como esse povo argentino é educado! Todo mundo acenando por onde eu passo.  Tenho que acenar de volta para mostrar que sou educada também.

E lá vai a pobre da vovó , morro acima sem barra de segurança e acenando para todos.

Quando ela chegou no topo foi que descobriram que ela subiu toda a montanha sem a tal barra e que as pessoas estavam acenando para advertí-la do perigo. Então ela contava pra gente naquele tom jocoso:

-  Escapei de morrer em Bariloche. Acho que se eu tivesse caído lá de cima, eles não iam nem dar falta de mim. Eles iam ver uma coisa rolando morro abaixo e nem iam perceber que era eu iam pensar que era uma pedra ou uma coisa qualquer... Mas Deixa...Deeeixa ... Só não morri por que não era meu dia.

E se abanava com o seu leque dando um suspiro profundo.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O Jardim de Infância Santa Terezinha


Depois que terminei o jardim no Menino Jesus, fui fazer o pré-primário no JIST - Jardim de Infância Santa Terezinha.
O meu mundinho estava aumentando. Antes o meu domínio era a pracinha dos bichos, a rua Boa Vista, e o lado de cá da Av. João Felipe Calmon. O Santa Terezinha ficava do lado de lá da João felipe Calmon, ao lado da igreja matriz. Sempre alguém me levava e buscava, perdi o direito de ir sozinha para a escola, pois o jardim era "muito longe".
O uniforme do Santa Terezinha era menos gracioso que o do Menino Jesus, mas era bem prático. Era uma blusinha xadrezinha azul e branca, abotoada atrás,na frente tinha  dois bolsos um pequeno do lado direito aonde lia-se "JIST" e um bolso maior mais embaixo ao meio com o nome da criança bordado,os bordados eram vermelhos, shortinho azul, modelo unissex. A minha avó Clothildes se via doida todo começo de ano com as encomendas dos bordados de bolso do jardim.
Escola nova, novos coleguinhas. Não tinha mais a minha companheira Katinha que havia se mudado para outra cidade. Conheci então uma menina chamada Clara, nós a chamávamos de Clarinha, e o mais engraçado e que ela bem loira e clara, o nome combinava bem com ela. Ela tinha uma irmã que se chamava Ilana e outra pequeninha , que ainda não ia ao jardim que se chamava Simone, de alguma forma me identificava com essas três meninas pois parecia a edição renovada do trio lá de casa. Os pais sempre as buscavam pois moravam lá na Mobrasa. Outra que morava longe e os pais também vinham buscar era Adriane, eles moravam lá nas Goitacazes estas coleguinhas se foram com o tempo pois nunca mais as vi , mas tive outras que fui amiga por muitos anos e que tenho contato ate hoje, por exemplo a Ivana Serafim.
Os móveis da escola eram todos pequeninos , as cadeiras baixinhas e as mesinhas aonde sentavam quatro crianças.
A minha professora do pré se chamava Solange e a diretora era ninguém menos do que a amável e querida tia Leninha. As crianças todas, sem exceção, adoravam a tia Leninha.
Na hora do recreio cantávamos aquela canção:

"Alegre cantamos
A canção do dia
Tá na hora do recreio e a
Sineta vai tocar
Delelém, dem, dem
Delelém, dem dem"

Na hora da saída ficávamos em frente da escola esperando os pais buscarem , tinha um portão longo que parecia uma porteira, subíamos em cima e ficávamos brincando no balanço do portão.
Foi quando um dia todos os pais buscaram os seus filhos e nada de ninguém vir me buscar. A tia Solange entrou para buscar alguma coisa e eu fiquei sozinha brincando no portão. Eu olhava para a rua e não vinha ninguém, nem mamãe, nem Idalécia... Aquela agonia da espera foi crescendo, e então eu me decidi e fui embora sozinha. Foi aquele reboliço.
A partir desse dia minha mãe viu que eu era capaz e que o jardim não era assim tão longe, e assim me restituiu o direito de ir e voltar sozinha.
O Fim do ano chegou. Estávamos todos alfabetizados e prontos para ir para o 1º ano escolar, o primeiro de muitos, é o momento que todos mudam de escola e assim a gente perde  alguns amigos mas outros nos acompanham e seguimos em frente pois outros tantos se agregam. A próxima etapa para mim foi o Castelo Branco.
Mais tarde com a idade de 10 anos tive que voltar ao jardim.Ei, não se assustem, não foi como aluna. É que chegou a vez de Fabinho, o meu irmão mais novo passar pelos mesmos caminhos que eu passei, e como eu conhecia muito bem o caminho do jardim era eu que levava e buscava.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A Tia Dalila

Não sei bem quando, mas o que eu sei é que quando eu nascí ela já estava lá.
Dalila era uma jovem cachoeirense que veio morar em Linhares e foi trabalhar na Ceplac. Estava a procura de um lugar para morar, como era amiga de Jair, irmāo de papai, este a levou para conhecer Seu Joaquim e Dona Clothildes para ver se ela poderia residir com eles. O destino a trouxe como um presente abençoado. Foi a união mais perfeita de pessoas que de simples desconhecidos tornaram-se tão próximos , seja por afinidade ou dedicação, ela tornou-se um membro de nossa família.  Nem preciso dizer que ela morou no nosso prédio por muitos anos. Para os meus avós ela foi a filha, ela os apelidou carinhosamente de Cati e Cutu, para papai ela foi a irmā e para mamãe ela foi o braço direito , que muito contribuiu para nossa educação, e para nós, as três meninas, ela era a mistura de Mary Popins com super Nany ou simplesmente a nossa tia Dalila que amávamos e respeitávamos.
Com um super talento para os bordados feitos à mão, devo dizer que o ponto cruz que ela fazia eram os mais perfeitos, nunca vi igual, ela tinha  paciência e ensinava as minhas irmãs, a fazerem  bordados,  quando eram ainda bem pequenininhas, nesse tempo eu ainda não era nascida. Nesse tempo meu primo Masterson morava tambem lá no prédio, então ele falava:

-  Tia Dalila, eu "quelo cutular" também.

Ela dizia então:

-  Mas você é um menino, e menino não costura.

Ele então replicava:

-  Como não?  O alfaiate ali na esquina "cutula".  Eu quero "cutular" também.

Ela morava na suite do segundo andar, e vinha tomar café da manhã lá em casa todos os dias. Quando ela chegava eu bem pequenininha  dizia:

-  Tia Dalila, a bençinha!

No que ela respondia:

-  Que Deus te faça uma santinha.

Ela tinha um copo verde que era só dela, ninguém ousava pegar e na hora das refeições quando colocávamos os pés na cadeira, ela nos mostrava o quadro da Santa Ceia pendurado na copa e então perguntava com toda a sabedoria:

-  Olhe bem este quadro. Você está vendo algum destes homens com os pés na cadeira?

Imediatamente tirávamos os pés da cadeira.
Confesso que anos mais tarde ainda contava os pés pra ter certeza que todos estavam com os pés no chão.
 Nós adorávamos ir brincar no seu quarto. Lá tinha um quebra-cabeça em blocos. Eram seis cubos e cada face do cubo formava uma figura diferente.
Tia Dalila nos deu muito amor, como uma verdadeira tia. Ela ajudou muito a mamãe a nos educar,  ela nos ensinava boas maneiras e nos acompanhava nas atividades escolares e sociais. Ela estava sempre conosco não importa aonde. Talento materno a flor da pele, nunca se casou nem teve filhos. Mas, sobrinhos não lhe faltaram!
Quando eu tinha cerca de cinco anos um certo fantasma começou a rondar os nossos sonhos e começou a virar um pesadelo. Ela começou a dizer que ia embora de Linhares. Eu não acreditava. Eu não queria que ela fosse. Mas o dia chegou e ela voltou para Cacheiro. Depois que ela foi embora, as vezes eu subia as escadas e parava diante da porta trancada do seu quarto esperando que ela fosse sair lá de dentro, mas a porta ficava inerte e o silêncio me mostrava a realidade dura de aceitar.  A sua ida deixou um vazio enorme em nossos corações, um vazio que nunca foi preenchido. Isto aconteceu antes do Binho nascer, pois no seu nascimento ela veio para ajudar mamãe mais uma vez. Depois, no meu aniversario de 6 anos fomos a visitar em Gironda.
Ela morava numa grande casa de fazenda, da varanda de sua casa víamos uma grande pedreira de mármore em plena exploração.
Ela veio nos visitar muitas vezes em Linhares ao longo desses mais de 40 anos que se passaram. Ela nunca deixou de a ser nossa querida tia Dalila e morro de saudade dela até hoje.
Muito obrigada tia Dalila, por ter sido o anjo que foi nas nossas vidas. Deus te proteja sempre!