domingo, 17 de janeiro de 2016

O Segundo Verão na Barra

O nosso segundo verão na Barra, foi em 1973.  Meus pais acharam, desta vez, uma casa para alugar que ficava mais perto da praia. A proprietária da casa se chamava Dona Bezerra, a casa  ficava em frente ao Hotel cricaré.
Mesmo esquema de sempre, nos fins de semana vinham os irmãos de mamãe com as primadas, as vezes alguma prima ficava para passar a semana com a gente.
O Hotel Cricaré era cercado por um muro bem baixinho, aonde a gente adorava passar o tempo embaixo das castanheiras frondosas embaixo era cheio de mesas e cadeiras de madeira pintadas de azul-marinho.  Mamãe sempre voltava da praia com a gente antes do meio-dia, a gente almoçava e depois ia brincar lá fora.  Ela nos dava ordens expressas de não sair sozinhas de casa e especialmente nunca ir ao mar.
O quintal da casa era de areia, ali eu passava horas construindo castelos de areia. Mas, a areia era preta e eu queria areia mais clara, então eu pedia a alguém responsável para me levar na praia para buscar areia, mas ninguém tinha tempo para uma garotinha. Então falavam,  mais tarde, ou, daqui a pouco. Foi quando eu  me decidi e e fui buscar a areia sozinha. Me lembro que fui com meu baldinho vermelho, atravessei a rua passando ao lado do cemitério abandonado,cheguei na praia , peguei minha areia, mas não cheguei perto da água. Missão cumprida voltei correndo para casa, sã e salva.
Mamãe preparava sempre uma Sarda ao Forno que era uma delícia, só de contar posso sentir o sabor, foi nesse ano que meu irmão engoliu uma espinha de peixe. Foi aquele alvoroço enfim levaram para o hospital e como sempre tudo terminou bem.
Neste ano fomos passear em Itaúnas pela primeira vez. Era um paraíso perdido, uma pequena vila de pescadores que havia sido soterrada pelas areias.Para chegar às dunas atravessava-se de canoa num rio de coca-cola.  Andávamos pela vila soterrada, mas ainda víamos partes das paredes e portas das casas . Era possível , nesse tempo ainda ver o cemitério e uma pequena rua , talvez a última com algumas casas abandonadas que ainda  tentavam resistir à invasao das areias sem sucesso.  Ficava imaginando, se a gente cavasse será que encontrariamos algum tesouro escondido? Na volta nadávamos no rio de coca-cola antes de ir embora já vencidos pelo cansaço e olhos cheios de areia, que me renderam uma visita ao hospital pois não conseguia dormir e chorava de dor nos olhos.
Foi também, neste passeio,  que na volta, descobrimos que havíamos sido roubados. A empregada que tinha ficado lá em casa aproveitou nossa ausência para fazer uma limpeza.  Enfiou o que pode na bolsa e se mandou para a rodoviária. Papai foi muito rápido pois conseguiu chegar com a policia antes do ônibus partir e recuperar os pertences subtraídos.
Depois de susto passado, pertences recuperados e olhos cheios de areia sarados, só nos restava curtir mais um verão delicioso na nossa querida Conceição da Barra de águas mornas, pocinhas na praia, sombra das árvores frondosas do Hotel Cricaré, castelo de areia preta no quintal, passeios na pracinha e não colocar o pé no banco por que o vigia já vem vindo mandar tirar.

"Ela nos dava ordens expressas de não sair sozinhas de casa
 e especialmente nunca ir ao mar."

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