segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Jardim de Infância Menino Jesus

Para quem não sabe, no local aonde hoje é a pracinha  Vinte e Dois de Agosto , em Linhares, no passado ela era conhecida como a pracinha dos bichos e no terreno enorme que ela ocupava coexistia um jardim de infância.  O Jardim de Infância Menino Jesus.
Este jardim ficava na esquina da rua da Conceição com a rua Professor Jones e foi a minha primeira escola.
Lembro muito bem da minha mãe me explicando que eu ia para o jardim, então ela me mostrou uma merendeira, tudo de plástico, nada térmico como os dias de hoje. O uniforme era uma gracinha uma blusinha rosa com o bolsinho bordado "JIMF" ,bordado feito à máquina,pela minha avó Clothildes,a sainha azul plissada e sapatinho preto de verniz, para os meninos uma bermudinha também azul. Então em 1972 eu estava pronta para ir à escola pela primeira vez.
A escolinha tinha um prédio principal, aonde funcionava a diretoria e dois pavilhões abertos e cobertos  aonde eram as nossas classes, eles ficavam em oposição de modo que o espaço no meio era livre e aonde passávamos os nossos recreios. A escola não era longe de casa, então mamãe me ensinou a ir e voltar sozinha.
Antes de  entrar na classe nós formávamos filas duplas. Cantávamos uma canção e seguíamos para a classe.
A minha primeira professora se chamava Dona Consenir. Que mulher bondosa! Era um anjo. Agradeço a Deus por tê-la tido no início da minha vida escolar.
Entre os meus coleguinhas de escola lembro de Katinha, que era minha vizinha e foi minha primeira amiga da vida. Nunca esquecí dela! Íamos juntas para a escola, mas não estudávamos na mesma classe, a professora dela era a Dona Jolinda.  Outro coleguinha  que me lembro era de Arlindo, ele era filho da Dona Consenir, estudei com ele ao longo do primário, grande companheiro. Outros me lembro vagamente.  Lembro de uma vez na fila quando Vaninho gritava , dizendo que estava com dor na goela, para sua irmã que estava aguardando a turma entrar para depois ir embora, acho que ele não queria ficar na escola. Engraçado foi que nessa cena a irmã do Vaninho deixou escapar um lenço da mão e quando ela foi pegar ao chão ela o fez tão graciosamente, e eu achei tão bonito que eu passei muito tempo querendo imitar  o ato sem sucesso, coisa de criança.
Na escola aprendíamos a escrever, a cantar, a obedecer e respeitar.
No tempo de festa junina era muito bom, a gente dançava quadrilha e tinha pescaria que era amelhor coisa  da festa.  Nas  paradas de 7 de setembro, os desfiles eram artísticos com carros alegóricos, rainha do cacau, muitas bandeirinhas e fitas cor verde e amarelo. Íamos impecáveis para o desfile. Foi nesse ano que desfilei de bicicleta, com rodinha, pois ainda não tinha equilíbrio, experiência não muito agradável pois não sabia andar na bicicleta e a rua de paralelepípedo não ajudava em nada.
No fundo da escola não tinha muro era um cercado igual a uma rede. Então me lembro uma vez, que eu estava na hora do recreio e minha prima Beatriz apareceu na pracinha do outro lado do cercado e fizemos um grande bolo de areia eu no lado da escola e ela no lado da pracinha. Quando me dei por conta o recreio já tinha acabado, estava todo mundo na classe e eu estava ali com Beatriz construindo o maior bolo de areia das nossas vidas , eu estava cheia de areia da cabeça aos pés, então batí a areia da roupa limpei as mãos, esfregando uma contra a outra, e voltei correndo para a classe. De vez em quando, nas tarde quentes,mamãe passava na escola pra buscar mais cedo para irmos tomar banho na lagoa Nova,e quando eu chegava no carro aquela turma de irmãs e primas estava aguardando ansiosa, eu ia de uniforme mesmo, mal podíamos esperar  para nos refrescarmos nas águas da bela lagoa.
Nesse ano  o meu irmão nasceu. Estava eu no recreio quando os meus vizinhos , irmãos da Katinha, vieram me avisar que mamãe tinha chegado da maternidade eu fui então pedir a professora para ir embora, e ela deixou.  Fui para casa correndo com eles para ver o meu irmão em casa pela primeira vez.
Chegado o fim do ano todos graduados no jardim de infância, estávamos prontos para ir ao pré-primário. Era apenas o começo de uma longa caminhada escolar. O Menino Jesus fechou. Não sei se foi logo que eu sai de lá ou mais tarde. Só sei que me lembro de passar em frente quando ia brincar na pracinha e ver o meu querido jardim de infância esquecido, abandonado e perdido no tempo. Na sequência, aquele que um dia fez parte da minha história e de onde trago tantas boas lembranças,foi demolido e no seu lugar foram construídos módulos que ficaram abandonados por muito tempo, levaram embora o jardim de infância e tomaram também o lugar da nossa pracinha dos bichos que entrou em decadência. Mais tarde esses módulos foram transformados no Fórum de Linhares.






quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A rua Boa Vista

A rua da minha infância!
Era lá, que corríamos descalços, brincávamos de pique-esconde, pique-alto, pique-baixo, pique-cadeia. Lá também, brincávamos de roda cantarolando assim:

   "Fui na Espanha buscar o meu chapéu,
   Azul e branco da cor daquele céu..."

Coisa boa era quando faltava energia e a gente ficava a observar as estrelas. Enquanto isso alguém saia de fininho pra se vestir de fantasma e assustar a criançada. Nem preciso dizer que a tia Anita era mestra nestas traquinagens.
Éramos quase todos da mesma família. A rua era quase toda nossa. Tinha muita criança naquela rua.
Numa casa morava  a tia Alcy, na outra a tia Naiade, na outra a tia Anita e na outra minha avó Aracy.
Na frente da casa da tia Naiade , antes da minha avó  construir a sua casa, havia um terreno enorme, que pertencera a minha bisavó no passado. Este terreno.  Era conhecido como " A horta". Era conhecido por este nome pois nos tempos da infância da minha mãe a Dona Petronilha, que era minha bisavó, alí tinha uma horta. Este terreno vasto arborizado era o lugar mais divertido para nós, tinha um pé de abíl, uma fruta muito bonita de casca amarela e caroço preto, deliciosíssima!
Éramos muitas meninas, todas primas. Alí tínhamos o nosso clubinho feminista. Nesse clubinho planejávamos estratégias, fazíamos planos e ensaiávamos os nossos teatros. De vez em quando a gente fazia cozinhado.
O cozinhado para quem não conhece, consistia em fazer uma fogueirinha de gravetos, pegar um punhado de arroz, escondido da mãe, e cozinhar numa lata de sardinha. O arroz ficava deliciosamente com sabor de fumaça. Sabor que nunca me saiu da memória.
A rua era descalça,então com a erosão formavam-se buracos nos lados da rua , que tinha uma ladeira, e que quando chovia tranformavam-se em verdadeiros rios , e como nós tínhamos muita imaginação ali brincávamos de barquinho, fazendas e pegávamos folhas de árvores e pequenos galhos e íamos colocando nas margens do nosso rio.
A rua foi calçada em 1975. Foi nessa época que eu aprendi a andar de bicicleta sozinha. Mais ou menos nessa época minha avó construiu a sua casa no terreno da horta, o outro lado da horta foi vendido. Logo colocou-se um quebra-molas pois os carros passavam correndo muito na rua agora calçada. Era o "progresso" chegando.
Ao longo dos anos a rua foi perdendo os seus encantos, seus espaços, seu brilho. As crianças foram crescendo, os antigos foram morrendo e levando consigo muitas das alegrias que nos proporcionaram.
A rua ainda está lá. Muitos da família ainda lá moram. Mas a rua Boa Vista da minha infância, só existe no meu coração e no coração de que viveu lá  naquele tempo.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O café morno

Dona Aracy Paiva Fernandes, era minha avó materna. Uma figura adorável , de personalidade forte e um tanto ou quanto caricata. Todo mundo que a conheceu tem alguma coisa engraçada pra contar de algo que ela tenha dito. Um desses "causos" é a estória do café morno.
Há muito tempo , não sei quando, a Dona Aracy estava com um pedreiro fazendo um serviço em sua casa.
Ela era aquela pessoa que todo dia preparava aquele café bem quente a tarde, então, vendo o pedreiro trabalhando tão árduamente resolveu agradá-lo com um café que acabara de fazer, ela colocou o café no copo e foi levar para o pedreiro:

  -Olha aqui seu moço acabei de preparar esse café. Toma um pouco.

O pedreiro deu um gole. Ela então perguntou:

  - E então? Está bom?

O Pedreiro olhou para o copo , olhou para a senhora e disse:

  - É tá bão minha senhora. Mas está morno.

 Dona Aracy incrédula volta para dentro de casa, sem nada entender. Como pode ser? Acabei de fazer esse café! Ela pensava.  - Mas deixa...deixa estar !Amanhã ele vai ver o que é um café quente.  Vou fazer um mais quente ainda.
No dia seguinte ela preparou o café pelando de quente e levou de novo, bem rápido para o pedreiro.

   -Seu moço, olha aqui um café  que eu acabei de fazer.

O homem dá o gole e ela logo pergunta:

  -E ai? Está bom?

   -É assim né dona, tá meio morno né. Respondeu o pedreiro.

Dona Aracy volta pra dentro de casa irritada, ela pensa : que diacho,  que que esse homem está  pensando?  O café  está pelando, e ele me diz que está morno! O que que ele está querendo? Não é possível? Só se ele tiver querendo que eu ponha o coador direto na boca dele. Talvez aí ele fique satisfeito.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

As galinhas da tia Anita

Uma certa vez mamãe encontrou sua tia Anita na rua, alí no centro de Linhares, foi quando a titia disse que estava indo ao supermercado comprar uns milhos pra suas galinhas: 
- Ah, sabe Naiazinha, disse titia, minhas galinhas estão precisando ficar um pouco fortes, fico até com pena das pobrezinhas, só comem restos de comida, estou indo ali no Seibert, vou comprar um saco de milho e tenho certeza que elas vão gostar.
Passado um tempo mamãe foi visitar tia Anita, estava curiosa pra saber se as galinhas haviam engordado com o milho, mas qual não foi a surpresa quando a titia disse :
- Ah , Naiazinha você nem sabe! Disse a tia Anita com aquele seu jeito irônico, pois eu joguei o milho e elas nem sequer vieram bicar. Galinhas metidas a besta. O que elas gostam mesmo é do resto de comida. Quando jogo estes elas vem correndo.
As duas então caíram na risada.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Dona Maria, a lavadeira

Quando eu era pequena, antes ainda do meu irmão mais novo nascer, talvez ainda por volta de 1970, minha mãe tinha uma lavadeira que se chamava Maria.
Toda segunda-feira lá em casa era dia de preparar a roupa pois a lavadeira vinha buscar. Lembro da minha mãe preparando aquela pilha de roupa numa grande trouxa, e uma vez por mês minha mãe entregava à Dona Maria um quilo de sabão em barra e uma caixa de sabão em pó OMO, era o sabão para lavar as nossas roupas por um mês. E lá vinha Dona Maria buscar a trouxa. Ela era uma mulher baixinha, redondinha e não tinha dentes, sempre de bom humor e com aquele sorriso largo e simpático. Muito conversadeira ela sabia do desejo da minha mãe ter um filho homem, após três meninas na casa ela sabia que Dona "Iaiá"( na verdade minha mãe se chama Naiah) era louca pra ter um menino. Mas Dona Maria estava muito satisfeita pois ela já  tinha o seu menino que devia ter cerca dez anos.  Assim um dia ela nos convidou para o aniversário do seu filho. 
Ela morava numa casinha branca, no centro de Linhares.Casinha humilde duas janelinhas na frente, uma porta no meio, não tinha nem muro nem cerca, tinha um pequeno degrau de madeira na frente da porta. Nesta época eu devia ter cerca de três ou quatro anos, mas tenho boa memória então me lembro de muita coisa. O bolo era branco, redondo e tinha um boneco em cima , representando o aniversariante. Ali chegamos e sentamos na pequena sala ao redor do bolo, mas para mim tudo parecia tão longo e enfadonho pois nada acontecia ficamos olhando o bolo até que finalmente fomos embora, não tenho lembrança do bolo sendo cortado. 
O tempo passou minha mãe mudou de lavadeira, era muito comum mudar de lavadeira, parecia que depois de um tempo não dava mais certo. Minha mãe engravidou e teve o tão esperado menino a notícia correu em Linhares, finalmente Dona Naiah teve o menino tão desejado. 
Havia  muito tempo que não víamos a Dona Maria.
Foi então que um dia mamãe estava passando de carro pela rua,eu e minhas irmãs sentadas atrás,e lá vinha ela que quando viu Dona "Iaiá"não hesitou e fez sinal para parar,aí com aquele seu sorriso largo  e ingênuo na maior  demonstração de alegria soltou a frase que nos fez achar graça e tornou-se inesquecível na família: 
      - Dona "Iaiá" quero te dar os parabéns! Até que enfim a Senhora teve um OMO.

Um passeio no rio Doce

Em 1978, fizemos um passeio pelo rio Doce.
Eu tinha um tio que era um desbravador,  Marísio  Paiva Fernandes. Ele foi criado , assim como minha mãe, Naiah Paiva Fernandes, e todos os seus demais irmãos nas margens do rio Pequeno, na desembocadura para o rio Doce. Eles conheciam tudo isso como a palma da mão.
Bom, eu no "alto" dos meus 11 ou 12 anos não conhecia muito bem a geografia de Linhares, mas o meu querido tio e padrinho sem saber me deu a mais bela lição de geografia da minha vida. 
Fizemos um grande passeio de barco. 
O barco foi nos apanhar no rio Doce. Quando falo nós refiro-me à criançada , éramos tantos primos e primas... Bem, então entramos no Milagre, sim o nome do barco era Milagre. Então fomos. Atravessamos  o rio Doce, atingimos o rio Pequeno entramos pela lagoa Juparanã e atingimos a praia de Atahualpa, naquele tempo ainda não era conhecida como Minotauro. Foi aí que eu entendi como os rios e as lagoas se entreligavam, minha lição de geografia. Que imensidão d'água, que beleza! E a brisa fresca em nossos rostos infantis.Chegamos lá cantando "Glória, glória aleluia"guiados pelo Capitão Marísio para um belo dia de domingo em família, pois outra parte do grupo foi de carro e já estavam nos esperando com a brasa quente para o churrasco na beira da lagoa.
Boas lembranças de um tempo...
Meu tio já se foi. Nunca tive a oportunidade de lhe agradecer por este passeio inesquecível no Milagre.