sábado, 19 de março de 2016

Os Novos Moradores

Eles chegaram, os novos moradores que habitariam no apartamento deixado vago pelos meus avós. Era uma família numerosa. Os pais eram Dona Nega e Seu Natinho.  Tinham 5 filhas todas moças, com mais de 15 anos, com exceção da mais nova que era da idade do Fabinho , portanto, pelo menos 5 anos mais nova que eu. Os filhos, creio que eram 4 todos rapazes, talvez 5, todos rapazes também.
Eram pessoas simples provenientes de Bom Jesus do Norte, eram pessoas bastante amigas. Moraram no nosso prédio por muitos anos.
 As jovens filhas variavam entre adolescentes e começo da fase adulta, então música era uma coisa que não podia faltar. Nós tinhamos um estilo mais urbano enquanto eles tinham um estilo country, gostavam de cavalgadas, passarinhos, chapéu de cowboy. O gosto musical deles era mais do estilo popular/country diferente do tipo de música que escutávamos lá em casa. Todos os grandes hits da época eles tinham:  Perla, Jane e Herondy, Odair José, Joelma,Antônio Marcos , Carmen Silva,Diana e todos os outros que eram tantos que nem tenho como lembrar. Elas gostavam muito de revistas também: Contigo, Amiga, Sétimo Céu, Carícia, Grande Hotel e etc... Mas o que tinha nestas revistas que elas gostavam tanto? Duas respostas:

primeira: as fotonovelas;

segunda: os posters.

Tenho que confessar que eles tiveram grande influência no meu gosto musical que é bastante eclético até hoje e as fotonovelas eu adorava, quem me conhece sabe que eu lia tudo que passasse na minha frente. Mas, os posters...Ah os posters...!
Nunca consegui entender. Tudo bem que os artistas eram bonitos, mas não precisava exagerar. Elas eram loucas pelos posters dos artistas. Elas compravam todas as revistas que saiam na banca, não perdiam nem um número. Mas o que elas faziam com os posters?

 Iam para a parede.

 As quatro paredes do quarto eram cobertas pelos posters dos artistas mais bonitos e famosos da década de 70:
 Ronnie Von, Pedrinho Aguinaqua, Tony Ramos, Tarcísio Meira,Francisco Cuoco, Carlos Zara,Odair José , John Herbert e etc...
Eram loucas por novelas, mas isso todo mundo era. Nesse tempo a televisão não era à cores então eles tinham uma telinha colorida como um arco-íris na frente da televisão. Era o máximo, a gente ia correndo para lá assistir as novelas "coloridas", isso ainda no tempo da Rede Tupi: Mulheres de Areia, com Eva Wilma e Carlos Zara, Anjo Mau com Suzana Vieira e José Wilker,Vitória Bonelli, Meu Rico Português, A Barba Azul com Eva Wilma.
Os passarinhos.  Ah os passarinhos! Adoravam os passarinhos! Tinham tantas gaiolas...era a vitrola tocando  de um lado e os passarinhos gorjeando do outro.
A filha mais velha do casal, casou-se. Me lembro dela, uma morena muito bonita vestida de noiva se escondendo para o noivo não ver, para não dar azar. Seu vestido branco era muito bonito, colado ao torso e a partir do joelho ia se abrindo como uma sereia e um chapéu muito elegante, moda na época.
Um dos rapazes quando se casou o seu primeiro filho se chamou Adriano em homenagem a minha irmã Adriana. Ela era muito querida por todos os membros da família.
E assim se passaram muitos anos dessa alegre família que morou no nosso prédio na Av. Joao Felipe  Calmon, 454 e nos trouxe tanta alegria, com suas músicas, revistas, fotonovelas e novelas coloridas como o arco-íris... E como todos os outros moradores o dia de ir embora chegou, mas, deixaram sua marca registrada na memória de quem viveu estes anos inesquecíveis do nosso prédio. Depois que eles se foram os apartamentos não foram mais alugados, após tantos anos de aluguéis e pouca manutenção os apartamento do segundo andar ficaram inabitáveis.
 Ficamos morando sem vizinhos até 1981, quando papai reformou o pequeno apartamento dos meus avós e alugou para o filho do Seu Guimarães recém-casado.  Ficaram pouco tempo pois eles mudaram-se para o Pará. Não demoraria muito chegaria a nossa vez em 1982.  Mas essa é outra estória a contar no Recordar é viver...

Enquanto isso divirta-se com os grandes sucessos de Joelma e Perla:








quarta-feira, 9 de março de 2016

Avenida João Felipe Calmon, 454

Este era o nosso endereço  em Linhares,  o nosso e o de muitos que moraram no nosso prédio ao longo dos anos. Os nossos vizinhos foram inesquecíveis pois cada um  que por alí passou trouxe algo consigo  e quando cada um se  foi  deixou algum fato que de alguma forma marcou nossas vidas. Vou tentar enumerar aqui alguns moradores talvez algum me escape.
A primeira de todas e a mais querida que tornou-se  membro da família  tia Dalila, pessoa maravilhosa que já tive oportunidade de descrever aqui no Blog anteriormente. Depois que ela se mudou o seu quarto foi alugado para uma juiz, um  Senhor muito gentil, lembro muito bem dele, mas não lembro o seu nome. Num dos apartamentos  no segundo do andar morou um casal Maria José  e Fabiano,  ela era professora e dava aulas particulares para as minhas irmãs. Tia Marly e Tio Marísio também moraram neste apartamento com Masterson ainda pequenininho foram contemporâneos da Tia Dalila. Mais tarde no apartamento ao lado moraram outro casal, Seu Souza e Dona Cleusa, ele era bancário e tinham dois filhos muito bonitinhos, Cláudio e Flávia eles eram menores que eu, mas não brincávamos muito pois Dona Cleusa era muito severa e não deixava eles saírem. Todo mundo dizia que o Cláudio era meu namorado, e eu detestava essa brincadeira. Quando o Cláudio foi estudar no Castelo Branco o Seu Souza nos levava pra escola no seu fusquinha. Um belo dia o seu Souza ganhou na loteria, então compraram uma casa e se foram como tantos outros moradores do prédio.  As vezes o prédio ficava vazio, só nos morávamos lá, desse modo juntávamos a turma de primas e íamos brincar de pique-esconde nos apartamentos. Mamãe se via doida  com aquela algazarra de criança correndo e gritando:

-  1,2,3, bóia....1,2,3, bóia

Quando ela não aguentava mais  botava um fim na brincadeira.
Quando a Casa Lopes fechou e a loja ficou vazia, um certo inquilino amicíssimo de papai,  Seu Brandão , pediu por ocasiāo de sua mudança, ele morava no segundo andar, para armazenar na loja, então vazia, o guarda-roupa que era  muito grande e não coube no transporte, ele mandaria buscar depois. Até hoje eu  não entendo como esse guarda-roupas ficou guardado montado.  O tal caminhão que vinha buscar demorou muito tempo, então nós crianças criativas que éramos, inventamos uma brincadeira. Mais uma vez juntávamos as primadas  e íamos brincar de casinha, dentro do guarda-roupas  cada porta era uma casa, a parte da calceira eram dois apartamentos menores, escrevendo estas linhas sou capaz de ouvir o eco do abre e fecha das portas dentro daquela loja enorme e vazia. Um dia, esse guarda-roupas caiu e foi um  deus-nos-acuda com criança presa dentro.  Acho que nosso anjo da guarda era muito forte pois ninguém se machucou, mas, o guarda-roupas,  esse coitado ficou todo empenado e depenado. Não sei como papai saiu dessa saia justa quando seu Brandão  finalmente veio buscar o guarda-roupas. 
A loja vazia não demorou muito foi alugada para o depósito de trigo do Grupo Buaiz. Foram muitos anos de poeira branca de trigo sobre os móveis. 
Os meus avós mudaram para seu novo apartamento  na rua Monsenhor Pedrinha aproximadamente em 1971 ,e logo o apartamento vazio foi alugado para uma família que morou no prédio por  muitos anos. Mas, esta família merece um capítulo especial , que estarei contando em breve no Recordar é Viver.
Assim  era a dinâmica do nosso prédio,  sempre tinha alguém chegando ou saindo. Assim eram nosso vizinhos quando chegavam aos poucos iam se instalando e fazendo parte na nossa vida, e quando iam sempre deixavam um vazio que era preenchido pelas boas lembranças e saudades no imaginário  de quem ficava no inesquecível  e velho endereço Av. João Felipe Calmon, 454.