quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A rua Boa Vista

A rua da minha infância!
Era lá, que corríamos descalços, brincávamos de pique-esconde, pique-alto, pique-baixo, pique-cadeia. Lá também, brincávamos de roda cantarolando assim:

   "Fui na Espanha buscar o meu chapéu,
   Azul e branco da cor daquele céu..."

Coisa boa era quando faltava energia e a gente ficava a observar as estrelas. Enquanto isso alguém saia de fininho pra se vestir de fantasma e assustar a criançada. Nem preciso dizer que a tia Anita era mestra nestas traquinagens.
Éramos quase todos da mesma família. A rua era quase toda nossa. Tinha muita criança naquela rua.
Numa casa morava  a tia Alcy, na outra a tia Naiade, na outra a tia Anita e na outra minha avó Aracy.
Na frente da casa da tia Naiade , antes da minha avó  construir a sua casa, havia um terreno enorme, que pertencera a minha bisavó no passado. Este terreno.  Era conhecido como " A horta". Era conhecido por este nome pois nos tempos da infância da minha mãe a Dona Petronilha, que era minha bisavó, alí tinha uma horta. Este terreno vasto arborizado era o lugar mais divertido para nós, tinha um pé de abíl, uma fruta muito bonita de casca amarela e caroço preto, deliciosíssima!
Éramos muitas meninas, todas primas. Alí tínhamos o nosso clubinho feminista. Nesse clubinho planejávamos estratégias, fazíamos planos e ensaiávamos os nossos teatros. De vez em quando a gente fazia cozinhado.
O cozinhado para quem não conhece, consistia em fazer uma fogueirinha de gravetos, pegar um punhado de arroz, escondido da mãe, e cozinhar numa lata de sardinha. O arroz ficava deliciosamente com sabor de fumaça. Sabor que nunca me saiu da memória.
A rua era descalça,então com a erosão formavam-se buracos nos lados da rua , que tinha uma ladeira, e que quando chovia tranformavam-se em verdadeiros rios , e como nós tínhamos muita imaginação ali brincávamos de barquinho, fazendas e pegávamos folhas de árvores e pequenos galhos e íamos colocando nas margens do nosso rio.
A rua foi calçada em 1975. Foi nessa época que eu aprendi a andar de bicicleta sozinha. Mais ou menos nessa época minha avó construiu a sua casa no terreno da horta, o outro lado da horta foi vendido. Logo colocou-se um quebra-molas pois os carros passavam correndo muito na rua agora calçada. Era o "progresso" chegando.
Ao longo dos anos a rua foi perdendo os seus encantos, seus espaços, seu brilho. As crianças foram crescendo, os antigos foram morrendo e levando consigo muitas das alegrias que nos proporcionaram.
A rua ainda está lá. Muitos da família ainda lá moram. Mas a rua Boa Vista da minha infância, só existe no meu coração e no coração de que viveu lá  naquele tempo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário