segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A Tia Dalila

Não sei bem quando, mas o que eu sei é que quando eu nascí ela já estava lá.
Dalila era uma jovem cachoeirense que veio morar em Linhares e foi trabalhar na Ceplac. Estava a procura de um lugar para morar, como era amiga de Jair, irmāo de papai, este a levou para conhecer Seu Joaquim e Dona Clothildes para ver se ela poderia residir com eles. O destino a trouxe como um presente abençoado. Foi a união mais perfeita de pessoas que de simples desconhecidos tornaram-se tão próximos , seja por afinidade ou dedicação, ela tornou-se um membro de nossa família.  Nem preciso dizer que ela morou no nosso prédio por muitos anos. Para os meus avós ela foi a filha, ela os apelidou carinhosamente de Cati e Cutu, para papai ela foi a irmā e para mamãe ela foi o braço direito , que muito contribuiu para nossa educação, e para nós, as três meninas, ela era a mistura de Mary Popins com super Nany ou simplesmente a nossa tia Dalila que amávamos e respeitávamos.
Com um super talento para os bordados feitos à mão, devo dizer que o ponto cruz que ela fazia eram os mais perfeitos, nunca vi igual, ela tinha  paciência e ensinava as minhas irmãs, a fazerem  bordados,  quando eram ainda bem pequenininhas, nesse tempo eu ainda não era nascida. Nesse tempo meu primo Masterson morava tambem lá no prédio, então ele falava:

-  Tia Dalila, eu "quelo cutular" também.

Ela dizia então:

-  Mas você é um menino, e menino não costura.

Ele então replicava:

-  Como não?  O alfaiate ali na esquina "cutula".  Eu quero "cutular" também.

Ela morava na suite do segundo andar, e vinha tomar café da manhã lá em casa todos os dias. Quando ela chegava eu bem pequenininha  dizia:

-  Tia Dalila, a bençinha!

No que ela respondia:

-  Que Deus te faça uma santinha.

Ela tinha um copo verde que era só dela, ninguém ousava pegar e na hora das refeições quando colocávamos os pés na cadeira, ela nos mostrava o quadro da Santa Ceia pendurado na copa e então perguntava com toda a sabedoria:

-  Olhe bem este quadro. Você está vendo algum destes homens com os pés na cadeira?

Imediatamente tirávamos os pés da cadeira.
Confesso que anos mais tarde ainda contava os pés pra ter certeza que todos estavam com os pés no chão.
 Nós adorávamos ir brincar no seu quarto. Lá tinha um quebra-cabeça em blocos. Eram seis cubos e cada face do cubo formava uma figura diferente.
Tia Dalila nos deu muito amor, como uma verdadeira tia. Ela ajudou muito a mamãe a nos educar,  ela nos ensinava boas maneiras e nos acompanhava nas atividades escolares e sociais. Ela estava sempre conosco não importa aonde. Talento materno a flor da pele, nunca se casou nem teve filhos. Mas, sobrinhos não lhe faltaram!
Quando eu tinha cerca de cinco anos um certo fantasma começou a rondar os nossos sonhos e começou a virar um pesadelo. Ela começou a dizer que ia embora de Linhares. Eu não acreditava. Eu não queria que ela fosse. Mas o dia chegou e ela voltou para Cacheiro. Depois que ela foi embora, as vezes eu subia as escadas e parava diante da porta trancada do seu quarto esperando que ela fosse sair lá de dentro, mas a porta ficava inerte e o silêncio me mostrava a realidade dura de aceitar.  A sua ida deixou um vazio enorme em nossos corações, um vazio que nunca foi preenchido. Isto aconteceu antes do Binho nascer, pois no seu nascimento ela veio para ajudar mamãe mais uma vez. Depois, no meu aniversario de 6 anos fomos a visitar em Gironda.
Ela morava numa grande casa de fazenda, da varanda de sua casa víamos uma grande pedreira de mármore em plena exploração.
Ela veio nos visitar muitas vezes em Linhares ao longo desses mais de 40 anos que se passaram. Ela nunca deixou de a ser nossa querida tia Dalila e morro de saudade dela até hoje.
Muito obrigada tia Dalila, por ter sido o anjo que foi nas nossas vidas. Deus te proteja sempre!

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