sábado, 26 de dezembro de 2015

Vovó Aracy II

Como eu ia dizendo a vovó Aracy não deixava nada barato...
Ela adorava um leque, uma sombra, uma rede,um vento...
Na casa do tio Mauricinho, lá na Barra, a rede era dela. Não tinha para mais ninguém. Mas rede sem balanço não tem graça, não é mesmo? Pois então alguém achou um jeito dela se balançar sem esforço. Amarraram uma corda na pilastra, desse modo ela mesma podia se balançar, puxando a corda contra a rede. Confesso que quando ela não estava na rede eu era uma das primeiras a chegar para desfrutar desse invento maravilhoso "a corda na pilastra".Mas, mesmo assim , com todo o vento, pois a casa era em frente a praia , ela ainda assim se abanava com seu leque.
Papai tinha um carro. Um corcel amarelo, 1972. Toda vez que estávamos prontos para ir a algum lugar, é claro ela ia junto. Cada um sentava no seu lugar e ela vinha e dizia batendo com seu leque na perna de quem estivesse na janela:

- Coisinha, chega pra lá.

Como eu disse ela adorava um vento não ia se não fosse na janela. Íamos então, naquele belo domingo fazer aquele passeio de família, com a janela bem aberta, de vento em popa.
Tio Heliomar e tia Iracema, que era uma de suas filhas, passavam uns bons bocados com ela. Às vezes eles vinham a Linhares para buscá-la para passar uma temporada na casa deles em Vila Velha. Bagagem pronta, vovó levava no carro tudo o que tinha direito e um pouquinho mais, bem sentada na "janela" o vento era tanto que ela nem lembrava do leque. Lá para as tantas quando chegava perto da posto de polícia rodoviária federal,o carro tinha que diminuir a velocidade, dessa forma o vento diminuia. Aí Dona Aracy abria a sua bolsa, não mais do que depressa para pegar o "leque" quando então vinha o desespero. Ela falava para o seu  genro Heliomar:

-Ai meu Deus! Eu esqueci meu leque. Lolô,você pode voltar para pegá-lo? Por favor!

Tio Heliomar parava no acostamento, com a testa quente e começava a suar em bicas. A pobre da tia Iracema não sabia o que dizer, estatelada diante da situação e a neta Raquel , não dizia sequer uma palavra. Então o Santo Heliomar dizia contendo-se para não explodir:

-Minha Senhora , você esqueceu o leque? Vamos voltar agora mesmo para buscar.

Vovó adorava cantar. O chuveiro era sua especialidade e uma de suas canções favoritas era o Tango pra Teresa da Ângela Maria:

" a luz do cabaré
   Já se apagou em mim..."

Amada por todos os netos, mas venerada pelos netos filhos da Naiade uma de suas filha, era chamada de "mãezinha".Por todos os outros era apenas " vovóracy".Amante das flores e da beleza da natureza vovó sempre tinha alguém para cuidar de suas plantas. Renê era uma menina, moradora da rua Boa Vista, que sempre brincava com a gente . Então diziamos:

-Renê vem brincar de pique com a gente. 

E ela dizia:

-Não posso ir agora, vou mais tarde pois tenho que molhar as plantas da Dona Aracy.



Tive um momento de ternura com vovó quando eu tinha uns treze anos mais ou menos. Vovó era muito vaidosa, então ela me pediu para fazer uma escovinha em seus cabelos. Fui a tarde na casa dela com secador e escova em punho para a pentear. Ela ficou muito satisfeita!




Olha pessoal, nunca imaginei que eu pudesse escrever tanta coisa da "vovóracy ". Me sinto na obrigação de escrever o "Vovó Aracy III".

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