terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O leite

Comprar leite no início da década de 70 não era tarefa fácil como nos dias de hoje. Lá em Linhares não era diferente. Na nossa parte do Centro onde eu morava nós comprávamos o leite do Seu Azevedo  e Dona Mariquinha, leite este que vinha de sua fazenda.
No fundos de sua casa, na rua Professor Jones, havia um enorme portão de garagem pintado de preto com muro branco. Abria as 7h00 , mas o leite não tinha chegado ainda, o portão era aberto e aquela multidão começava a entrar nesta garagem que era bem grande e ali ficava esperando. Quando o leite chegava havia todo um ritual. Me lembro de uma mulata alta e bem esguia que fazia esse processo.
O leite chegava nos galões de metal e ali em frente aos fregueses o leite era coado , pela mulata, num pano bem branquinho e limpo depois de todo coado e livre das impurezas é que os fregueses começavam um por um a pagar e pegar o leite. Cada freguês levava o seu próprio recipiente.
 Quando chegava em casa fervia-se duas vezes e tinha que ficar tomando conta para não esburrar. Depois de fervido aguardava-se esfriar e quando frio criava uma nata grossa na superfície, tirávamos com a colher e guardávamos na geladeira para fazer manteiga caseira.
Passado um tempo os produtores de leite se juntaram numa cooperativa, a Camil, o leite passou a ser pasteurizado. Então acabou a magia de buscar o leite no seu Azevedo. Agora vinha um caminhãozinho pipa e nós iamos buscar o leite na rua, na esquina da Professor Jones com a João Felipe Calmon. Quando o caminhãozinho chegava tocava uma buzina avisando.
Quando eu tinha mais ou menos 8 anos eu fui decretada,lá em casa, a responsável por buscar o leite. Todo dia eu saia com o galãozinho de 3 litros.Acho que mamãe não gostou muito deste sistema do leite pasteurizado, eu ouvia os adultos dizendo que agora o leite estava fraco, parecia água e não tinha mais a nata grossa. Então voltamos a pegar o leite direto da roça, dessa vez na casa do tio Humberto e tia Aurora, ele era tio da minha mãe e irmão do meu avô materno. Para mim sair lá de casa para buscar esse leite era longe, eles moravam na Professor Jones lá no final em frente a pracinha. Era pesado eu vinha trocando de mão e as vezes parava para descansar de tão pesado que era. No caminho havia muita distração, tinha uma casa ao lado do seu Azevedo , aonde morava um primo da minha avó paterna, o seu Joaninho do cinema, e quando eu passava sempre parava para conversar com a Viviane sua filha, ela falava então chamando as suas irmãs:
- Olha só, quem está aqui!
Mais a frente, bem em frente a pracinha, passava o olho no meu querido jardim, o Menino Jesus, por alí sempre  tinha uma mulher a colocar o seu bebê para tomar sol, ela mostrava o seu bebê toda feliz,mais tarde entendi que era a esposa de Luiz Durão, que nesse tempo ainda não era prefeito.
Passado os anos, acabou-se o leite do seu Azevedo, o leite do tio Humberto e o leite do caminhãzinho, agora o leite era ensacolado. O leite passou a ser ditribuido nos estabelecimentos comerciais. Nesse tempo já existia a Skips, do outro lado da João Felipe Calmon, que era mais longe ainda, e era lá que eu ía buscar o leite nosso de cada dia.

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